Diz quem sabe que a culpa é da falta de respostas adequadas dos partidos tradicionais – que se terão deixado embrulhar numa teia de interesses cada vez mais longínquos das populações, qualquer coisa difícil de definir – como se o aparelhismo tivesse contaminado primeiro os militantes, depois o próprio Estado – mas de todo o modo obscura, multitudinária em cada partido em particular e extremamente contagiosa.
Sendo fundamental para a democracia que os culpados sejam desmascarados e levados ao cadafalso da irrelevância política, o certo é que um número cada vez mais vasto de cidadãos deixa de ter instrumentos (nomeadamente ideológicos) que lhe permitam manterem uma cerca sanitária em redor de propostas políticas inconcebivelmente estúpidas. Os argentinos são, por estes dias, mais um povo exposto a estas propostas.
Javier Milei, que arriscou vencer à primeira volta as eleições presidenciais do país – mais uma vez as sondagens saíram derrotadas, como vem sucedendo quase sem exceção um pouco por todo o mundo (outra realidade que a democracia teria a ganhar em analisar) – mas passou a segundo e nada obsta a que não consiga ser eleito.
As suas propostas são abundantemente extravagantes: acabar com a moeda nacional e adotar o dólar norte-americano, “dinamitar” o banco central argentino, acabar com as relações económicas com o Brasil e a China (‘só’ os dois maiores parceiros comerciais do país), promover a disseminação de armas pessoais e a criação de uma espécie de bolsa de órgãos humanos.
Economista de 52 anos, parlamentar desde 2022, Javier Milei arrecadou quase de um terço dos votos dos argentinos – com certeza os que acham que o dólar pode travar uma inflação anual de 140% e antecipam que a venda de órgãos humanos pode financiar o pagamento da dívida (apesar de esta estar abaixo dos 85% do PIB).
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