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Jean-Dominique Senard: gestor visto como o “anti-Ghosn”

O novo patrão da Renault tem um perfil oposto ao do sucessor, caído entretanto em desgraça. Empresários franceses consideram-no defensor do “capitalismo responsável”, um homem “bom com as pessoas”e um gestor “moderado”.
23 Fevereiro 2019, 12h00

Jean-Dominique Senard é frequentemente chamado de anti-Ghosn. Não gosta de luxos, é discreto, cortês e pertence à elite clássica francesa. Senard, antigo presidente da Michelin,  chegou a responsável das finanças do fabricante de pneus em 2005. Foi o primeiro executivo sem ligação à família Michelin a chegar a CEO, em 2012. É visto como um gestor “moderado”, defensor do “capitalismo responsável” ou “capitalismo pacífico”.

“É importante redescobrir uma forma de serenidade depois dos eventos particularmente extraordinários que acabámos de viver”, disse, referindo-se à detenção do anterior presidente Carlos Ghosn.

De acordo com o conselho de administração da Renault, que faz parte do grupo Renault-Nissan, a equipa de direção será também composta por Thierry Bolloré, antigo adjunto de Carlos Ghosn, que foi nomeado diretor-geral da construtora. A liderança da nova equipa foi oficializada no dia 24 de janeiro.

Senard é considerado um gestor bem sucedido. Na Michelin, o valor das ações da companhia subiu consideravelmente e, durante a permanência na empresa, apresentou um programa de responsabilidade e liderança com resultados práticos na fabricante de pneus.

A sua escolha foi também apoiada pela Nissan, parceiro do construtor francês no grupo Renault-Nissan, cujo presidente, Hiroto Sakawa, disse querer “abrir um novo capítulo” na “parceria histórica” entre os dois construtores. Sakawa espera ainda “uma melhor comunicação” entre as empresas depois de várias semanas “difíceis”.

O governo francês, que é o maior acionista da empresa Renault, com 15 por cento, e se tem esforçado para reparar as relações com a Nissan, considera Jean-Dominique a opção certa.

Prova disso é que o ministro francês da Economia e Finanças, Bruno Le Maire, saudou as nomeações, considerando que se abre “uma nova página na história da Renault”, desejando “sucesso a Jean-Dominique Senard e a Thierry Bolloré”, como pode ler-se na sua conta na rede social Twitter: “A aliança Renault-Nissan deve permanecer como número 1 mundial e continuar a ser o orgulho dos seus trabalhadores”, acrescentou, citado pela agência noticiosa AFP.

Formado pela Escola de Altos Estudos Comerciais de Paris (HEC), Senard detém ainda um título aristocrático, que foi concedido à sua família pelo Papa Leão XIII (o pontificado durou entre 20 de Fevereiro de 1878 até à data da sua morte, em 1903).

“Eles não poderiam ser mais diferentes”, disse um empresário em Paris, enquanto o jornal francês Libération, de esquerda, apelidou Senard de “anti-Ghosn”. “Ele é bom com as pessoas. Carlos Ghosn era mais frio e mais distante”, disse um empresário em Paris, citado pela imprensa.

As credenciais que traz da principal fabricante de pneus são consideradas fundamentais para impulsionar os interesses da fabricante francesa na aliança Renault-Nissan-Mitsubishi. Isto enquanto reconstrói as feridas deixadas por Ghosn – que foi durante anos aclamado como um gestor talentoso, que subiu a pulso, e um dos salvadores do setor automóvel , ao ter sido responsável pela reviravolta de empresas que pareciam condenadas. Em 2002 a revista Fortune consagrou-o como homem de negócios do ano da Ásia.

Porém, em novembro do ano passado, o então presidente do conselho de administração do grupo Nissan Renault, Carlos Ghosn, foi detido no âmbito de uma investigação das autoridades japonesas por alegada fraude fiscal. Esta semana, pela primeira vez, recebeu a visita das suas duas filhas no centro de detenção de Tóquio.

No entanto, apesar da diferença de estilos de liderança, existe um ponto em comum entre Carlos Ghosn e Jean-Dominique Senard: ambos passaram grande parte da sua carreira profissional na Michelin.

Artigo publicado na edição nº 1975 de 8 de fevereiro do Jornal Económico

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