O estado da arte da governação encontra-se em situação de inércia política com as greves dos professores, médicos e enfermeiros. Um cenário que se agrava com a crítica dos jornalistas quanto às opressões à liberdade de expressão, um aspecto que está a ser visto como algo de positivo na governação de João Lourenço.

Depois das eleições, o governo ainda não conseguiu encontrar um rumo ou ímpeto novo, porque decidiu ser um governo de continuidade, fazendo, por conseguinte, jus à máxima “em equipa que ganha não se mexe”. Pretende-se assegurar uma perspectiva de continuidade na acção política, no entanto, esta não pode ser considerada como um valor em si mesmo, porque uma continuidade que não gera dinamismo ou expectativa futura de transformação social e económica não augura bons resultados. Sobretudo para um partido como o MPLA que tem vindo a registar um declínio eleitoral.

Para o Presidente da República (PR), o governo deve comunicar melhor para evidenciar os seus feitos, colocando, assim, a tónica na comunicação política e a estratégica de governação num segundo plano. Sucede que a comunicação política pressupõe a priori uma estratégia governativa clara e objectiva, o que não se verifica, porquanto não existe no quadro constitucional a necessidade de o governo apresentar um programa de governo. Deste modo, os ministros executam orientações emanadas do PR, na qualidade de Titular do Poder Executivo (TPE). Ou seja, os ministros são efectivamente auxiliares do PR, que devem, acima de tudo, garantir os interesses do TPE.

Os ministros angolanos tornam-se, deste modo, propagandistas dos feitos do PR. Isto retira-lhes autonomia política e capacidade técnica de execução de uma agenda política própria que possa servir para elevar o seu currículo e criar uma imagem forte, actuando como delfins políticos. Na história política africana, os delfins políticos normalmente protagonizaram golpes de Estado, pelo que as figuras que assumem publicamente ambições de ascensão política normalmente são descartadas. Por isso, os ministros actuam mais como agentes do PR.

Face à falta de autonomia dos ministros e à inexistência de um programa de governo, o próprio PR fica bastante exposto e o desgaste da sua imagem acaba por ser elevado. Pois, os cidadãos têm uma elevada expectativa quanto à capacidade de realização do PR, o que não deve constituir em si uma novidade no funcionamento dos governos presidencialistas. Como ensina Guillermo O’Donnell (1994), cientista político argentino, os governos presidencialistas são apresentados como autênticos “governos de salvadores da pátria”.

A assunção segundo a qual João Lourenço detém, em si, uma solução mágica para os problemas dos angolanos acaba por colocar em causa a imagem e o prestígio do mesmo. Porque um discurso realista e cauteloso, com acordos políticos necessários e devidos, gera um maior entendimento sobre as dificuldades de governação e pode servir para ganhar a confiança do eleitorado. Caso contrário, o eleitorado passa a responsabilizar directamente o PR de todos os falhanços de governação, com a devida razão.

Assim sendo, o PR não precisa de uma melhor comunicação, mas, sim, de dialogar, de estabelecer acordos, de auscultar e, sobretudo, de desenhar uma estratégia de governação que possa servir de orientação clara aos seus ministros e outros auxiliares. Evitar, ainda, colocar em cima da mesa temas sem um impacto directo na vida dos cidadãos, como é o tema do terceiro mandato. Porque esta ambição deve ser sempre uma consequência da boa gestão e não uma ambição sem sustentação social e legitimidade.