Os mais distraídos poderão pensar que, de repente, Portugal tornou-se um país de intolerantes, que se assumem publicamente nos mais diferentes meios. A esses distraídos devemos dizer: têm andado (bastante) distraídos.
Os mais recentes, e infelizes, episódios desta saga de intolerância envolvem jornalistas e o seu trabalho. O romantismo associado à profissão diz-nos que o jornalista busca a verdade da história, consultando as várias partes envolvidas e cingindo-se aos factos. Sabemos que, como em qualquer profissão, há bons e maus profissionais e que, também nestes meios, há quem ultrapasse algumas fases do processo noticioso. Mas cinjamo-nos aos factos, esses que chateiam quando vêm ao de cima e deixam os intolerantes ainda mais irrequietos.
Um qualquer membro de um governo não deve nem pode destratar e atacar, como foi feito, uma peça jornalística. E apagar, depois, o comentário não é sinal de arrependimento. É antes a consciencialização de que não há separação entre o que diz o cidadão e o governante e que, além do erro, aquela não era nem a plataforma nem a forma corretas para o fazer.
Curiosamente, também na semana passada, um empresário foi condenado por ter tentado atropelar uma equipa de jornalistas do mesmo meio e do mesmo programa informativo. Como diriam os nossos irmãos brasileiros: andam a cutucar as feras. Eu diria de outra forma: devem andar a fazer um excelente trabalho.
Noutro meio, o do futebol, há muito que qualquer pessoa responsável se sente insegura fora e dentro de um estádio, sempre que há jogos que colocam frente a frente equipas rivais, os chamados grandes mas não só. De bolas de golfe a voar, a destruição nas ruas, até cânticos que mais do que impróprios são intolerantes. Sinal da intolerância de quem os entoa e absolutamente intolerantes para quem tem de levar com eles.
Dentro e fora dos estádios, é necessário ver-se um jogo de forma contida para não se ser atacado pelos adeptos do outro clube quando, por exemplo, a nossa equipa marca golo. Intolerância. A mesma que um empresário de futebol expressou, fisicamente, sobre um repórter de imagem. Infelizmente, proliferam casos como este, envolvendo altos dirigentes, de vários clubes, com comportamentos inaceitáveis e violentos.
Atacar verbal ou fisicamente, porque se discorda de algo ou alguém, é um sinal de fraqueza; de perda de razão; de intolerância. E desengane-se quem pensa que só há violência quando há público nos estádios. Mesmo com estádios vazios, a intolerância está lá. Basta ter-se assistido às transmissões televisivas nos últimos anos.
Esqueça-se cores políticas, clubes, religiões ou qualquer outro critério. A tolerância deve ser transversal.
Este artigo é a minha forma de dizer que não tolero nem aceito comportamentos destes, seja de políticos, de dirigentes desportivos, de colegas de trabalho ou de cidadãos desconhecidos.
Já agora, estrume é material orgânico em avançado estado de decomposição e usado como fertilizante. Muito útil na agricultura.