“Precisamos de financiar o jornalismo como bem público que é”. Eis o título do artigo que li recentemente, da autoria de vários jornalistas, e que surgiu impresso nas páginas do jornal “Público”. Grande parte dos jornalistas envolvidos dedica-se a projetos jornalísticos independentes ou locais, de acesso livre, num contributo importante para a urgente discussão sobre a sustentabilidade do jornalismo.
Como os subscritores do artigo deixam bem claro, a dependência exclusiva de receitas publicitárias é um modelo que já não se adequa à realidade atual.
Que soluções estão em cima da mesa para salvaguardar o jornalismo de investigação, numa época em que assistimos ao rápido desmantelamento de jornais e estações de rádio, à insolvência de revistas, e em que as administrações alegam constrangimentos financeiros para sufocar cada vez mais as redações e desviá-las do serviço público que deveria estar na base de qualquer jornalismo?
A resposta por parte dos subscritores passa por instituir programas de financiamento público, que impulsionem projetos de investigação plurais, e não apenas centrados no consumo rápido e numa lógica reativa à informação diária, mas também aliar isso a doações dos leitores/comunidade, abrangidas por isenções fiscais.
Porque não equiparar o jornalismo à Cultura? Se são concedidos apoios estatais ao setor da Cultura, que garantem a concretização das programações das instituições culturais, por que razão o jornalismo não poderia beneficiar da mesma lógica?
Ao contrário do setor da Cultura, a separação de poderes entre o poder político/económico e o jornalismo não é tão definitiva ou transparente. E também sabemos que o jornalismo está numa posição mais vulnerável face ao contexto de polarização ideológica e avanço do populismo e propaganda da extrema-direita.
Estas questões e outras vão estar em discussão numa conferência organizada a 28 e 29 de junho, no Göethe Institute, em Lisboa, pela MediaCon, numa tentativa de debater novas perspetivas e refletir sobre os vários tipos de jornalismo que precisamos, procurando dar destaque a uma maior pluralidade.
E quando poderemos ver esta discussão a ter lugar nos centros de decisão política, de forma arrojada, tendo plena consciência de que o modelo atual vigente está ultrapassado ou já não se adequa a grande parte das necessidades dos jornalistas e leitores?
Podemos aspirar a novos modelos de sustentabilidade, sabendo que é uma reflexão exigente e sensível, mas da maior importância? Precisamos de novas soluções e menos lamentos.