Quase 20 anos depois, os jornalistas portugueses voltam a juntar-se em congresso. Entre 12 e 15 de janeiro do próximo ano, o Cinema São Jorge vai ser palco do 4.º Congresso dos Jornalistas, organizado pela primeira vez em parceria por três associações: a Casa da Imprensa, o Clube de Jornalistas e o Sindicato dos Jornalistas. Para já há 470 inscritos – 334 jornalistas e 136 estudantes –, um número que Sofia Branco, presidente do Sindicato dos Jornalistas, espera ainda ver crescer. Ao Jornal Económico, a líder do sindicato descreve como “incompreensível” o facto de o último congresso ter sido realizado em 1998 e, desde então, não voltar a promover-se qualquer encontro.
Sofia Branco lembra, aliás, que foi uma das suas promessas eleitorais: “Candidatei-me por considerar imprescindível [a realização do congresso]. Não conseguimos convencer a anterior direcção e, sem resposta positiva, avançámos.” Desde 1998, mudaram “as plataformas, as relações profissionais, o acesso à profissão”, destaca. É imperativo, portanto, acompanhar esta mudança.
A recetividade da Casa da Imprensa e do Clube de Jornalistas à proposta foi “imediata” e, entre as três entidades, a jornalista Maria Flor Pedroso, editora de política nacional da estação pública de rádio Antena 1, foi escolhida para presidente da Comissão de Organização do Congresso. Jornalista há 28 anos, também fez parte da organização do congresso realizado em 1998. Maria Flor Pedroso considera que, nos últimos anos, “não houve capacidade” de promover um encontro, pelo volume de trabalho envolvido neste tipo de iniciativa. Contudo, outros fatores ajudam a explicar a inexistência de ação. Ao Jornal Económico, a presidente da Comissão de Organização disse tratar-se de “uma classe que tem dificuldade em refletir em conjunto” e em “ser proativa”. Além de serem “pouco consequentes com as críticas” que fazem à própria classe, os jornalistas enfrentam atualmente desafios que “não permitem uma relação saudável com a profissão”.
São estas questões, “que exigem resposta e atitude” – como sublinha Maria Flor Pedroso –, que o congresso pretende colmatar. Sob o lema “afirmar o jornalismo”, há vários objetivos na agenda. Um deles, consensualmente tido como prioritário, é assegurar que não se repete o sucedido em 1998, ano em que se estabeleceram resoluções que Maria Flor Pedroso descreve como “fantásticas”, mas que, como Sofia Branco recorda, “nunca foram postas em prática”. A presidente do Sindicato dos Jornalistas destaca também a importância de assumir compromisso temporal. Para que não se passem mais 20 anos, “a data do próximo congresso tem de ficar estabelecida”.
Além de ser promovido por três das associações de jornalistas existentes no país, facto que é, por si só, “notável”, como classifica a presidente da Comissão de Organização, importa destacar a componente pedagógica do congresso. Foram firmadas parcerias com dez universidades, cinco de Lisboa e outras tantas do resto do país, para dar vida a uma redação multiplataforma composta por 80 estudantes. Serão orientados por dois professores de cada instituição de ensino, a trabalhar em turnos de sete horas, para produzir conteúdos de imprensa, televisão, rádio e online. A experiência, que vai integrar o currículo universitário dos alunos escolhidos, pretende criar “uma redação ideal” e deixar um legado de boas práticas, conta Maria Flor Pedroso.
A expetativa da organização é positiva. Maria Flor Pedroso espera que estejam presentes “perto de mil jornalistas”. Um número razoável, se considerarmos que há, em Portugal, sete mil titulares de Carteira Profissional de Jornalista. Quem se inscrevesse até 31 de outubro beneficiaria de 50% de desconto, mas há quem ainda não o tenha feito para ajudar à recolha de fundos, através da contribuição com um valor mais elevado. As inscrições estão abertas até 16 de dezembro e o programa já está fechado, embora os oradores ainda estejam a ser selecionados. São sete as sessões previstas e englobam, entre outros temas, o estado do jornalismo, regulação, ética e deontologia, condições de trabalho e viabilidade económica do ofício. Maria Flor Pedroso deixa o desafio: “Espero que seja polémico e que haja muita discussão.” n
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