Este texto foi publicado originalmente no suplemento “Quem é Quem no Setor Financeiro”, que integrou o Jornal Económico de 26 de fevereiro de 2021.

 

Um eventual adiamento das moratórias permitirá a quem delas beneficia adiar o momento em que terá de suportar o verdadeiro impacto económico e financeiro das perdas que possa ter sofrido em consequência da crise. Tenderá a providenciar tempo a quem dele necessita para reorganizar a sua atividade e criar condições que lhe permitam beneficiar da retoma que ocorrerá após o fim da crise. Ou seja, poderão verificar-se casos nos quais tal procedimento possa ter alguma justificação.

O reverso da medalha é que tal adiamento proporciona um efeito de anestesia que permite a quem não possui condições para recuperar manter-se em atividade, continuando a destruir valor. E, nestes casos, o valor em causa não poderá ser recuperado, representando uma perda terrível para a sociedade, em geral, e para o setor bancário, em particular.

Com o fim das moratórias, uma empresa que não possua condições para operar, vai ter de deixar de o fazer. Tal facto, terá implicações dramáticas para a própria empresa, para quem nela investiu, para quem nela trabalha, para os seus fornecedores e para os bancos que a financiaram. Mas a empresa não continuará a pagar rendas, salários e todos os restantes custos fixos, sem possuir condições para o fazer.

Adicionalmente, perante este tipo de circunstâncias, a empresa deixará de existir e irá destruir valor mas, caso os produtos ou serviços que produz continuem a ser necessários à sociedade, outra ou outras maisAna Pina eficientes vão ser criadas e, dentro de algum tempo, encarregar-se-ão de absorver a sua força de trabalho e representarão um valor acrescentado para a economia.

De um ponto de vista da solidez da economia em geral e da banca em particular, um prolongamento adicional das moratórias levar-nos-á a perder mais tempo e a agudizar o problema entretanto criado. Prolongará o período durante o qual não teremos consciência plena da dimensão daquilo que enfrentamos.

No caso particular da banca, só quando nos confrontarmos com os contornos definitivos do problema – ou seja com a realidade – será possível verificar se as perdas potenciais que temos vindo a registar, sob a forma de imparidades, serão suficientes para fazer face à destruição de valor entretanto ocorrida. Ora, quanto mais rapidamente tais efeitos forem identificados, mais depressa se poderão tomar as medidas de correção adequadas que dimensionem, tanto as empresas como os bancos, de molde a permitir o crescimento futuro da economia e o redimensionamento do setor bancário, que necessariamente vamos ter de implementar.

Em síntese, a banca conseguirá sobreviver num ambiente de moratória prolongada, mas o valor que tenderá a ser destruído em resultado de tal prolongamento – tanto na banca, como na economia em geral – será exponenciado, gerando muito maior sofrimento para toda a sociedade, pelo que tal prolongamento deveria ser evitado ou, na pior das hipóteses, alvo de um phasing out efetivo e definitivo.