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José Fernando Rio: “Pinto da Costa distraiu-se. FC Porto debate-se com graves problemas financeiros”

Em entrevista ao JE, José Fernando Rio (Lista C, jurista de profissão, 52 anos e sócio há 24 anos) sublinha que é “portista desde pequenino”. Vai ao ‘Dragão’, acompanha o FC Porto quando joga fora mas o “decréscimo competitivo” e a “depreciação das contas da SAD” fê-lo avançar.
19 Maio 2020, 08h17

Em mais de trinta anos, Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do clube há 38 anos, não teve concorrência nos atos eleitorais no FC Porto. A 6 e 7 de junho, Nuno Lobo e José Fernando Rio desafiam o presidente de clube mais titulado do mundo (60 títulos no futebol e mais umas largas centenas nas modalidades) e apresentam-se a escrutínio nos ‘dragões’ quando o último a fazê-lo tinha sido o médico e empresário José Martins Soares nas eleições de 1988 e 1991.

Entre a possibilidade de acumular no próximo ano o pagamento de dois empréstimos obrigacionistas, os prejuízos de quase 52 milhões de euros no primeiro semestre da presente temporada e alguns sinais de desunião na estrutura, já evidenciados publicamente por o treinador Sérgio Conceição, são fraturantes os temas ‘quentes’ que prometem aquecer uma campanha eleitoral que vai decorrer enquanto o FC Porto tenta manter a magra vantagem que tem na I Liga.

Em entrevista ao JE, José Fernando Rio (Lista C, jurista de profissão, 52 anos e sócio há 24 anos) sublinha que é “portista desde pequenino”. Vai ao ‘Dragão’, acompanha o FC Porto quando joga fora mas o “decréscimo competitivo” e a “depreciação das contas da SAD” fê-lo avançar.

 

Porque decidiu recandidatar-se à presidência do FC Porto?

Decidi recandidatar-me à presidência do FC Porto porque, em primeiro lugar, sou portista desde pequenino, de coração, de ir aos estádios, de acompanhar a equipa. Em segundo lugar, candidato-me porque nos últimos anos tenho notado que existe um decréscimo competitivo da equipa, algo que é acompanhado por uma depreciação das contas da SAD. Neste momento, o clube não se encontra naquela pujança em todas as frentes que a presidência de Pinto da Costa nos habituou. Achei que este era a altura adequada para intervir para que possamos pôr um travão a esta perda de performance desportiva e financeira e dar um futuro ao clube.

Que motivos encontra para que exista essa depreciação?

Várias razões. Em termos desportivos, o FC Porto privilegia três agentes de futebol no máximo, pelo que o nosso campo de recrutamento é inferior ao dos outros clubes. Nas últimas épocas, o FC Porto não tem mantido um plantel estável, com a saída de cinco titulares: Casillas, Filipe, Militão, Brahimi, Herrera.

Não era habitual ver o FC Porto deixar sair jogadores a custo zero?

Isso era algo impensável há meia dúzia de anos. A questão financeira não tem permitido que se possa gerir os jogadores que terminam contrato da melhor forma. Não tem havido capacidade financeira para segurar jogadores no último ano de contrato e isso também não permite ao clube vender esses jogadores com mais-valia financeira para o clube. Esses jogadores que têm saído têm um bom valor de mercado mas o FC Porto não tem beneficiado com isso. Ao longo dos últimos 20 anos, fomos um clube de referência a descobrir talentos e a realizar mais-valias.

Teme que possa acontecer com Alex Telles o mesmo que sucedeu a Herrera e Brahimi?

Nesse caso, creio que a SAD já terá qualquer coisa alinhavada. Seria inexplicável por parte da SAD que mais um jogador com a relevância do Alex Telles saísse a custo zero. Estamos numa época financeira em que o FC Porto precisa de realizar mais-valias, muitos e bons negócios.

Os prejuízos de 52 milhões no primeiro semestre da época assim o obrigam.

O estado a que chegaram as contas do FC Porto faz-me avançar para esta candidatura. Os jogadores que foram contratados para esta época chegaram tarde e isso fez com que não nos conseguíssemos apurar para a Liga dos Campeões e só dar-nos-ia pelo menos à volta 40 milhões de euros. Estas contas assustam-me até porque, fruto desta crise que estamos a viver, não sabemos como vai ser o mercado de transferências.

Até porque foi necessário adiar o pagamento do empréstimo obrigacionista para 2021.

Sim, se tivéssemos conseguido garantir essas verbas, não seria necessário adiar este pagamento que estava agendado para junho deste ano. Na minha perspetiva, mais preocupante do que adiar esse reembolso, é que daqui a um ano o FC Porto tem que reembolsar não 35 milhões de euros mas sim 70 milhões de euros. O FC Porto ainda está sob a alçada da UEFA no cumprimento das regras do Fair Play financeiro.

A estrutura do FC Porto tem estado à altura?

Nos últimos anos, saíram vários elementos de grande valor da estrutura e que não foram substituídos à altura: Antero Henrique, Angelino Ferreira e Fernando Gomes. Creio que na estrutura existem alguns egoísmos e interesses próprios que se sobrepõem aos interesses do FC Porto. Jorge Nuno Pinto da Costa deixou-se distrair com outros assuntos, não olhou bem para as contas e estas têm influência na performance desportiva. Houve algum desleixo que fez com que o FC Porto se debata com graves problemas financeiros.

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