É fácil pensar que os jovens não se preocupam com a política e que a política não se preocupa com os jovens. Com efeito, observa-se que os jovens estão cada vez mais desinteressados pela política convencional. Isto demonstra-se, essencialmente, na fraca participação dos jovens entre os 18-24 anos nas eleições, assim como uma diminuição na integração e participação da vida política.

O elevado nível de abstenção nas várias eleições leva-nos a induzir no pensamento que os políticos falham no que toca a envolver o eleitorado jovem, havendo uma (falsa) tendência para se considerar que os membros dos partidos são todos ‘o mesmo’.

Os jovens, em particular, sentem-se desiludidos e pouco inspirados pelo processo através do qual as decisões ao seu redor são tomadas. Estes tendem a acreditar que não estão suficientemente informados, que a política em Portugal é complexa e difícil de decifrar, e que outros saberão melhor e poderão até, inclusivamente, decidir por eles.

Pior: autorizam, voluntariamente, outros para que pensem e decidam por si, pois acreditam que a sua voz não é devidamente escutada e que as suas expectativas, perspetivas e contribuições são inúteis. Estes poderão pensar que a sua voz não conta e que as suas perspetivas não são importantes, contudo, isto não corresponde à verdade.

Há que ver o copo meio cheio e depreender que os jovens continuam interessados na política, e são ativos em modos alternativos de participação política. Crê-se que o problema não seja a apatia política, mas a alienação em relação ao sistema político. Alienação essa que só pode ser imputável ao sistema, note-se.

Os jovens preocupam-se, e muito, mas, no seu mundo próprio: é visível, por exemplo, nas redes sociais, os vários grupos e movimentos que expressam variadas preocupações, desde a emergência climática até ao tema da saúde mental.

É um facto que os jovens são historicamente menos propensos a ir às urnas do que as gerações mais velhas; no entanto, estes mostram-se mais em sintonia com o panorama político, quando enquadrado na vida real. Os jovens não estão desligados das questões políticas, estão desligados do sistema, e isto é preocupante.

Por exemplo, os jovens politicamente ativos são, por vezes, infantilizados e diminuídos pelos mais velhos, como foi o caso da adolescente sueca Greta Thunberg. Apesar dos seus esforços para difundir a consciência sobre as alterações climáticas e mobilizar os jovens para a ação, foram muitos os que a tentaram ignorar e diminuir, simplesmente por se tratar de uma adolescente.

Isto não pode acontecer. A política não deve, de todo, ter faixas etárias, idade ou género. Como se houvesse um voto censitário só porque se é jovem, embora maior de idade. A política tem de ser feita por todos e para todos. Só assim respeitamos e honramos o viver numa sociedade onde impera a democracia.

A mudança tem de vir do topo, por exemplo, tornando mais apelativa para os jovens a inclusão na vida política. Urge que os nossos líderes governamentais invistam em soluções que incentivem os jovens a participar no processo político. Esta deve ser uma das principais preocupações dos nossos governantes, pois os jovens de hoje são os governantes de amanhã, e é nossa responsabilidade passar o testemunho. Não apenas passá-lo, mas passá-lo bem. Só assim garantimos que deixamos um legado digno de ser seguido.

Jovens que sejam, têm os seus ideais, aspirações, e até inquietações. Se os arredarmos hoje da vida política, como serão os votantes e decisores de amanhã?