A experiência de ensinar alunos que ingressam no primeiro ano da Universidade é um desafio contínuo e muito gratificante. É bom olhar para alunos interessados no que à economia diz respeito, em particular num momento tão crítico da economia nacional e internacional. É esta a experiência ao longo dos anos e que, mais uma vez, se evidencia nas conversas que emergem no decurso das aulas de economia no ISEG, também no atual ano letivo.

Os alunos mostram interesse, vontade de ouvir e dedicam-se às matérias lecionadas, procurando enquadrar a teoria, na evolução da economia real. E, eu, desempenho o meu papel, passando os conceitos essenciais da microeconomia, procurando dar-lhes respostas que os façam refletir e ter um pensamento crítico.

Foi numa destas sessões que uma das discussões surgiu, quando se falava dos efeitos dos impostos sobre o bem-estar, em que se argumentava que a introdução de um imposto gerava perda de bem-estar social líquida para a sociedade, porque afastaria o equilíbrio da situação de concorrência perfeita, onde a teoria nos diz que o bem-estar social é maximizado. Segundo esta mesma teoria, o equilíbrio de mercado, com imposto, dar-se-ia a um nível menor de quantidade transacionada, originava perdas de bem-estar nos consumidores e produtores, as quais não conseguiam ser totalmente compensadas pela receita fiscal acrescida.

Um aluno do primeiro ano questiona, “mas, Professora, que garantias temos que a receita fiscal reverta para a sociedade. Estaríamos dispostos a ter uma perda líquida de bem-estar resultante desta intervenção do Estado, isto é, a afastarmo-nos da situação de livre concorrência de mercado, se o acréscimo de receita fiscal daí decorrente fosse bem distribuído”. Subjacente a isto, estaria o sacrifício da eficiência em prol da equidade. Disse-lhes que o Estado, através dos gastos públicos, nomeadamente em setores prioritários como a saúde, a educação, a habitação e os apoios sociais e, nos diversos apoios que concede às empresas, faria regressar esta redução do excedente dos agentes económicos, novamente para o benefício das famílias e empresas; que o Estado, poderia canalizar os seus recursos para políticas redistributivas e investimentos estruturantes e mais um sem número de coisas úteis. A conversa foi evoluindo com argumentos que extravasavam o aspeto essencial da matéria e é esse o ponto onde pretendo também chegar.

As palavras são como as cerejas e aquilo que de essencial se retirou da conversa foi uma enorme preocupação destes jovens com o seu futuro, que é também o futuro do país, algum descrédito sobre o andamento da economia e sobre a intervenção do Estado e até da teoria económica que embeleza os manuais.

O ambiente geral é bem este: interesse pelos assuntos económicos, o que se afigura como positivo, afinal são alunos de economia, a consciência de que o Estado tem um papel a desempenhar através de uma boa regulação económica e, ao mesmo tempo, a grande preocupação com as circunstâncias que afetam o seu quotidiano, quando, por exemplo, observam as dificuldades em alugar um quarto, num contexto de preços da habitação muito elevados, quando tomam consciência das dificuldades dos pais em os manterem no ensino superior, ou quando revelam preocupações com as dificuldades de uma inserção no mercado de trabalho, que lhes proporcione oportunidades adequadas às competências que adquirem na faculdade.

Isto não deve ser interpretado com o egoísmo da preocupação com o eu. Afinal, é aos jovens que está destinado o trabalho de fazer avançar a economia, com as suas competências e inteligência e com quem queremos e devemos contar. Por isso os queremos confiantes, sendo nosso dever atuar e dar argumentos que estimulem essa confiança.