Quando tudo fazia crer que o jovem rei Juan Carlos de Espanha – que tomou posse em 22 de novembro de 1975 – pouco mais seria que um peão no meio dos abutres do regime franquista, o delfim de Francisco Franco demonstrou inesperadamente ser detentor de vida própria e alterou o rumo de um país que arriscava encalhar num istmo demasiado saliente da sua própria história. O exemplo recente dos vizinhos a oeste, Portugal, terá contribuído para que o jovem rei percecionasse o tempo fundamental em que era chamado a governar e tivesse por isso decidido que era tempo de encerrar aquele bizarro período de suspensão da monarquia sem contudo ter sido instaurada uma república.
Apesar de todas as incongruências e de todos os defeitos que a transição incorporou – alguns deles acabando por evidenciar-se em pouco tempo – o certo é que, entre carlistas com o prazo caducado, franquistas à procura de botijas de oxigénio, comunistas que voltavam a descobrir um amanhã e filhos de anarquistas com os pais trocados, Juan Carlos conseguiu endireitar um caminho que se revelava tremendamente tortuoso.
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