Apesar da inflação estar a subir na generalidade das economias e de algumas divisões internas, o Banco Central Europeu (BCE) continua a sinalizar a intenção de não alterar a política monetária. A recente alteração de mandato do BCE acaba por dar abertura a que se aceite uma inflação mais alta sem que haja reposta da política monetária. Não há previsão de quando se irão reduzir as compras de ativos e muito menos de quando as taxas de juro de referência poderão subir.

Avancemos alguns factos. Tendo em conta os contratos de futuros, o mercado desconta taxas Euribor a três meses negativas até ao final de 2026. A Euribor a três meses está negativa desde abril de 2015, há mais de seis anos. A taxa de juro de referência do BCE está em 0% desde setembro de 2014, há já quase sete anos. A taxa de juro implícita nos Bunds alemães a 10 anos está negativa desde maio de 2019, há mais de dois anos. Aquilo que, numa primeira fase, pareciam aberrações e contextos excecionais transformaram-se em algo estrutural.

Num contexto de pandemia, os Estados ficaram mais endividados e, por isso, mais vulneráveis a condições de financiamento mais exigentes. Tendo presente que é do interesse do BCE evitar uma nova “crise da dívida” e que o Japão já nos mostrou como é difícil, ou mesmo impossível, sair de uma situação de “armadilha de liquidez”, é plausível pensar que não voltará a haver condições para a normalização da política monetária.

O que poderá o BCE vir a fazer? Em primeiro lugar irá manter as coisas como estão até que seja insustentável. Depois terá de tirar um “coelho da cartola”. Talvez opte por um “jubileu” que poderá passar pelo assumir a rolagem perpétua de dívida pública, dentro de cada banco central nacional, ou mesmo pelo “perdão” parcial dessa dívida, seguindo determinados critérios. Mais tarde, poderá surgir um “euro digital”, com outras regras e que serviria de ponto de partida para uma nova realidade. Esta é uma conclusão muito especulativa, mas plausível.