Surpreendentemente, o roubo de armamento em Tancos ainda continua na ordem do dia, e de vez em quando ficamos a saber mais alguma coisa. Não deixa de ser interessante, pois houve quem pensasse que as coisas apareciam e pronto, o episódio estava encerrado. Não.

Estas coisas de roubos em paióis são recorrentes, e foram sempre complicadas particularmente para quem roubou. Um exemplo recente é o de Rashied Staggie, que em 2004 o tribunal julgou culpado do roubo de armas da base de Faure, levado a cabo em junho de 1998; como se não bastasse o roubo de espingardas R-1 e R-5, shotguns e granadas, o armamento foi guardado numa igreja em Kraaifontein.

Ou o assalto de armas malaio de 2 de julho de 2000, o maior da história do país, quando Mohamed Razali e 29 homens – incluindo um major do exército – disfarçados de militares roubaram mais de 100 armas de dois quartéis numa falsa inspeção surpresa e fizeram diversos reféns; os soldados até os ajudaram a carregar as armas e equipamentos nos jipes. Os assaltantes pertenciam ao culto Al-Ma’unah, e pretendiam derrubar o governo. Foram praticar para o mato com as armas roubadas e o barulho que fizeram levou os habitantes do local a alertarem as autoridades. Cercados pelo exército e pela polícia na vila de Sauk, em Kuala Kangsar, após quatro dias acabaram por se render mas não sem tentarem destruir duas fábricas de cerveja por – imagine-se – não ter sido atendida a sua exigência de demissão do primeiro-ministro Mahathir Mohamad.

Em julho do presente ano, a polícia da Bolívia prendeu três membros do Comando Vermelho brasileiro, responsável pelo roubo em 16 de junho de nove espingardas, cinco pistolas e munições diversas de uma base militar boliviana. Mas a minha história favorita é a de Bazzu Badshah, de alcunha Pasha, o cérebro do maior roubo de armas desde 2006 em Mumbai. O seu plano era conquistar a província, daí a necessidade das armas; o passo seguinte seria assaltar um negócio de diamantes em Surat para poder pagar aos seus homens.

Só que Pasha era viciado em xarope para a tosse, e tinha emborcado 50 garrafas da coisa antes do assalto. Quando da fuga, completamente “pedrado”, ficou furioso pelo empregado de uma bomba de gasolina exigir o pagamento ao futuro rei e ameaçou-o com uma arma. O empregado chamou a polícia, que acabou por o prender e recuperar as armas e mais 100 garrafas de xarope. Um caso em que “getting high was his downfall”.

Portanto, se a história se repete, os nossos assaltantes de Tancos sabiam que iam ser apanhados. Não sendo burros, isso só prova que eles nunca planearam roubar, algo que os seus advogados têm desprezado até aqui. Porque devolveram eles o armamento? Porque não foi roubo, foi um mero empréstimo. E uma prova clara disso é que devolveram mais do que pretensamente roubaram – o juro.