As curvas de rendimentos estão a inclinar na generalidade das geografias. É um sinal de aviso para as dificuldades que poderão a surgir no pós-pandemia.
Nas últimas semanas, as taxas de juro de longo prazo dos títulos de dívida pública têm vindo a subir. Por exemplo, os Treasury Bonds (EUA) que pagavam 0,91% a 10 anos no início de 2021 estão agora com rendimento de 1.30%. Nos títulos a 30 anos, no mesmo período, as taxas passaram de 1,65% para 2,10%. Como as taxas de curto prazo não se alteraram, a inclinação da curva de rendimentos aumentou. Na zona euro também se assistiu a um movimento semelhante, com os Bunds alemães a passarem de remunerar a -0,60% para -0,35%, ainda em terreno negativo.
A subida das taxas nos prazos mais longos decorre, essencialmente, da perspetiva de que a inflação irá finalmente aparecer devido à recuperação económica, a restrições do lado da oferta e em resposta aos muitos estímulos fiscais e monetários implementados e ainda a caminho.
Trata-se de um sinal de alerta para os governos e demais emitentes. A dívida que os países acumularam só será possível de gerir com taxas de juro muito baixas. A dívida pública de Itália caminha para 160% do PIB, com Portugal nos 133% e França nos 120%. A estratégia europeia para a recuperação económica pós-pandémica passa por mais apoios fiscais, que implicam apoio da política monetária.
Se a inflação (ameaçar) surgir, a subida das taxas de juro em mercado secundário poderá colocar em risco esta estratégia. Nesse caso, a possibilidade de um cancelamento da dívida detida pelo BCE via bancos centrais nacionais, ou a sua transformação em títulos sem juros, passará a estar em cima da mesa.