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Juros baixos vão continuar a dar gás ao M&A em Portugal

Advogados contatados pelo JE defendem que a conjuntura permanece propícia à realização de operações de consolidação no mercado nacional. Qualidade dos ativos também será crucial, dizem.
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23 Março 2019, 17h00

A economia portuguesa está numa trajetória de abrandamento, em linha com as suas pares europeias, mas os advogados, consultores e banqueiros de investimento ouvidos pelo Jornal Económico consideram que existem condições para que o mercado nacional de fusões e aquisições (M&A) não só se mantenha dinâmico como até possa surpreender, pela positiva, em 2019, depois de um ano de 2018 em que se registaram, em Portugal, 350 operações no valor de 22 mil milhões de euros. A manutenção dos juros baixos e a qualidade de alguns ativos que poderão ser colocados no mercado fundamentam esta expetativa.

Empresas como a EDP, a Brisa, a Altice (rede de fibra) e a Tranquilidade estarão no centro destes movimentos de consolidação (ver texto ao lado).

“Apesar das perspetivas da desaceleração do crescimento económico em Portugal e das dúvidas sobre o contexto internacional – efeitos do Brexit e a situação da economia alemã –, penso que apesar de tudo o mercado de M&A em Portugal vai manter a tendência de crescimento em 2019, podendo mesmo vir a ser um dos melhores anos entre os mais recentes”, disse ao Jornal Económico o advogado Diogo Perestrelo.

O sócio de M&A da PLMJ adiantou que há vários setores com processos de M&A “muito relevantes já anunciados para 2019, como as telecomunicações (fibra), seguros, eletricidade, energias renováveis e outros setores em que prevejo possam ter lugar transações importantes como é o caso dos media, das concessões rodoviárias e mesmo da banca”.

A decisão do BCE de manter os juros baixos por mais alguns anos, de maneira a fazer frente ao crescimento anémico na Europa, deverá facilitar estas operações, acredita Diogo Perestrelo. Os fundos internacionais continuam a dispor de liquidez e precisam de a aplicar em ativos que ofereçam retornos atrativos. E, neste ponto, a qualidade de alguns ativos portugueses poderá ser decisiva.

“A qualidade e a posição estratégica dos ativos em causa, a manutenção das taxas de juro baixas e a enorme liquidez dos fundos de investimento internacionais pode contribuir para uma forte competitividade dos processos de M&A em Portugal”, frisou o sócio da PLMJ.

Também o advogado Jorge Bleck, sócio da Vieira de Almeida (VdA), partilha desta opinião. Jorge Bleck considera que, nesta conjuntura de juros baixos, os fundos de infraestruturas, de pensões e de private equity vão ter de fazer um “esforço ativo de investimento para os meios colocados ao seu dispor, pois essa é a única forma de obterem retornos minimamente satisfatórios com vista à remuneração expetável dos respetivos participantes e investidores”. O responsável de M&A Corporate Finance da VdA acredita que haverá, no decurso de 2019, “algumas operações de envergadura invulgar para a generalidade do que temos vindo a assistir nos últimos anos”. Por sua vez, António Villacampa Serrano, sócio diretor da Uría Menéndez – Proença de Carvalho também espera que 2019 seja um ano “excelente”, com “grande atividade em operações de M&A, e este primeiro trimestre parece estar a confirmá-lo plenamente”, apesar da “ameaça” constituída pelo arrefecimento da economia e das “operações que tipicamente acompanham processos eleitorais”, dado que é ano de eleições.

Ciências da Vida e novas tecnologias estão a atrair cada vez mais investidores

Em termos de setores, Nelson Raposo Bernardo, managing partner da Raposo Bernardo & Associados, destaca tecnologia, telecomunicações, biotecnologia, saúde, energias renováveis e hotelaria, salientando também o facto de os investidores terem acesso a financiamento a custo baixo. “O acesso a fontes de financiamento não é um bloqueio decisivo”, ao contrário do que sucedia há poucos anos, disse.

Por sua vez, Alexandre Jardim, sócio da pbbr, considera que em 2019 se deverá continuar a assistir a uma grande atividade no imobiliário e no turismo, à semelhança do que sucedeu no ano passado (ver páginas 4 e 5 deste Especial). Mas vê também muito potencial nos setores da energia, ambiente, mobilidade urbana, logística, saúde e farmacêutico e meios e instrumentos de pagamentos. António Cid, associado sénior da FCB Sociedade de Advogados, refere duas outras áreas de relevo: “O desenvolvimento tecnológico é exponencial e serão de esperar movimentos no que respeita às empresas que actuam nesse domínio, em particular no que respeita àquelas que se dedicam às ciências da vida ou à vertente financeira – as fintechs”.

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