As organizações mais bem-sucedidas a lidar com o caos e a ambiguidade destes últimos dois anos já foram apontando novos caminhos numa jornada que ainda está a ser experimentada. E quais são eles? Destaco quatro aspetos-chave:

  1. A liderança como um exercício de proximidade. Com a pandemia, as pessoas deixaram de ser algo que estava convenientemente “à mão” para passarem a ser algo que tivemos de (forçosamente) gerir à distância. E o que parecia abundante e conveniente passou a ser escasso e aparentemente mais difícil de aceder. Essa perceção de perda levou muitas vezes a um estreitar dos ciclos de acompanhamento e orientação. Subitamente, líderes que iam liderando a equipa através de interações casuais e não programadas, por vezes a ciclos longos e irregulares, deram por si a sentir a necessidade de desenvolver rituais de partilha e pontos de situação a ciclo curto e regular. E desta forma, líderes que antes não tinham tempo para acompanhar as suas equipas, deram por si a ter tempo para o fazer. Que assim se mantenham agora…
  2. A liderança como um exercício de responsabilidade. A pandemia levou muitos profissionais a tomar o gosto pela liberdade de gerirem a sua própria vida, de (re)lançarem os seus projetos, de serem donos do seu tempo. Por isso hoje muitos resistam a voltar a trabalhar num escritório. Outros exigem mais autonomia e flexibilidade na forma de organizarem o seu trabalho. E sempre que o design produtivo o permita, o caminho para reter e tirar proveito do talento passará por ter uma liderança mais baseada em princípios fortes e claros e menos baseada em regras e procedimentos rígidos. O paradigma da liberdade e da responsabilização substituirá o clássico paradigma da supervisão e controlo.
  3. A liderança como um promotor do “growth mindset”. Num mundo em que trabalharemos cada vez mais em equipa, em formatos mistos, a partilha de conhecimento continua a ser crítica, mas a aprendizagem vai depender cada vez mais da nossa capacidade de aprendermos por nós. A velocidade com que temos de colaborar vai exigir profissionais cada vez mais produtivos e sedentos de aprender. E as lideranças terão que provocar e incentivar esta atitude, dando inclusive o exemplo;
  4. A liderança como um promotar da criação de laços. Curiosamente, o distanciamento social levou ao reforçar da pertinência das chamadas “soft skills”: trabalhar em equipa, cooperar, partilhar conhecimento, cocriar, tornaram-se não só essenciais como diferenciadoras para o sucesso de qualquer profissional, a partir do momento em que os contextos de trabalho passaram a ser mais ambíguos, variados e inconstantes, requerendo a criação de laços através de processos de comunicação multi-canal. Nunca como hoje a escuta ativa foi tão importante, nunca como hoje a resiliência faz tanta diferença. Nunca a diversidade cognitiva foi tão necessária, bem como a agilidade intelectual. Saber trabalhar com estas ferramentas relacionais e ajudar as equipas a desenvolvê-las passam a ser uma das prioridades da liderança.

Os líderes do futuro deverão desenvolver assim uma liderança KISS (Keep It Simple but Smart). Porque somos capazes de ir mais longe, com princípios fortes e menos regras.