O prémio Nobel da Economia Paul Krugman disse nesta segunda-feira, 21 de abril, que Portugal está mais exposto às guerras comerciais de Donald Trump face a outras economias europeias. E voltou a criticar duramente a política económica do presidente norte-americano.
“Nunca imaginei em 1976 que o epicentro do caos global fosse o meu país, mas é. E temos de pensar nisto: enquanto a guerra comercial e toda a loucura se desenvolve, o quão exposto está Portugal?”, começou por dizer hoje o norte-americano num discurso em Lisboa.
“Sei que não está totalmente dependente dos turistas e das empresas norte-americanas, mas a sua importância significa que provavelmente está mais exposto do que o país europeu médio”, disse Paul Krugman na conferência Falar em Liberdade organizada pelo Banco de Portugal para celebrar os 50 anos do 25 de abril.
Por outro lado, o economista também destacou que dado o “percurso de Portugal, provavelmente, não devemos estar muito preocupados”, acrescentou dado o facto de Portugal já ter ultrapassado outras crises como a da zona euro em 2011.
Paul Krugman conhece Portugal desde 1976, ano em que integrou um grupo de estudantes do Massachusetts Institute of Technology (MIT) que estiveram nesse ano a fazer um estágio no Banco de Portugal onde teve a oportunidade de conhecer o então Governador José da Silva Lopes, mas também Miguel Beleza, ambos acabaram por ser ministros das Finanças mais tardes.
Com 23 anos, descobriu um “país muito atrasado” e nesta segunda-feira fez vários elogios ao percurso feito pelo país nas últimas 5 décadas.
“Uma das coisas notáveis era que a transição teve lugar com pouca violência, mas em 1976 era tudo bastante caótico”, recordou.
Deu o exemplo dos problemas económicos com que se deparou na ocasião: “a situação e os números que tínhamos, tudo indicava que eram precisas medidas de estabilização, mas isso era uma linguagem proibida. Tudo apontava para medidas para equilibrar a balança de pagamentos, o que significava desvalorização [da moeda], mas não podíamos dizer esta palavra”.
Noutra ocasião, recorda que o então governador do BdP José Silva Lopes (“muito inteligente e muito charmoso, engraçado”) disse que as reservas de moeda estrangeira estavam a recuar muito depressa.
“Na altura, havia controlos extensivos, não era possível tirar dinheiro de Portugal. Estariam as pessoas a contrabandear dinheiro? Como? Um grande mistério. Até que um dia dizem que resolveram o problema. Descobriram que os bancos comerciais estavam a arrebatar as moedas estrangeiras, ficavam com os dólares e os marcos e não os entregavam como deviam. O engraçado era que os bancos comerciais tinham sido nacionalizados e a crise de moeda estrangeira foi causada pelo Governo a esconder moeda estrangeira do resto do país”, revelou.
“Mudou-se Portugal para melhor, mas ainda temos tanto para fazer”, diz Centeno
“Um poeta escreveu mudam-se os tempos, mudam se as vontades. Mudou-se Portugal para melhor, muito melhor. Mas ainda temos tanto para fazer, felizmente, bem melhor”, disse Mário Centeno esta segunda-feira numa referência ao poema de Luís Vaz de Camões.
“Os tempos correntes são de desafio. Desafios cuja superação requer que retomemos o espírito da transformação que assentaram e definir os últimos anos sem receios”, acrescentou. ”Portugal é um exemplo de como um país se pode desenvolver aberto ao exterior. Devemos isso aos que lutaram com os nossos avós e pais, privando-se da pouca liberdade que tinham para que todos tivéssemos mais. Aos que investiram nos seus filhos o pouco que tinham, rompendo uma barreira geracional erguida pelo secular atraso na educação e que permitiram ao país, enfim, sonhar”, acrescentou o ex-ministro das Finanças na conferência “Falar em liberdade” que teve ontem lugar em Lisboa.
“Os tempos atuais colocam nos em alerta. Requerem mais intervenção, maior coordenação, mais informação e ainda mais análise e reforço da confiança. Portugal é hoje uma sociedade em transição. Felizmente, esta transição é feita em democracia e sob o símbolo da estabilidade”, segundo o responsável.
O governador deu o exemplo da imigração: “A forma como recebemos na última década centenas de milhares de pessoas vem ajudar a construir abril”.
E deu também o exemplo da educação, dimensão financeira e o crescimento económico, assim como a “necessária e sempre adiada convergência real com a União Europeia”.
Recordou também a transformação que a Revolução dos Cravos deu à condição social da mulher, que passou a participar ativamente no mercado de trabalho, assim como na habitação. Recordou também o avanço social feito com a criação do salário mínimo nacional, introduzido em 1974, com uma “enorme ambição”.
“Na verdade, 60% dos portugueses que trabalhava em 1974 passaram a receber o salário mínimo. Foi tanta a ambição que apenas em 2017 o salário mínimo voltou a ter o mesmo valor real, descontada a inflação, que os pais fundadores da nossa democracia económica e social quiseram e impuseram em 1974. Apenas em 2017, o salário mínimo valeu mais do que o valor inicial”, sublinhou.
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