A batalha contra a inflação nos EUA está a entrar numa nova etapa, e isso é um bom sinal, mas que não deve ser exagerado. Se tudo correu como se esperava, o Open Market Committee decidiu subir a taxa de juro – a Fed funds rate –apenas 50 pontos base esta quarta-feira, em vez dos 75 das últimas quatro subidas (a dez horas da reunião FOMC, a probabilidade de isto acontecer estimada a partir dos Fed funds futures a 30 dias é 80%).
Isto significa que a Reserva Federal dos EUA (Fed) acredita que o pico da inflação já passou. Outras questões são quanto tempo isto ainda vai durar, ou seja, quanto se vai abrandar o combate e alongar o tempo que a coisa vai levar, e quão resiliente a inflação é, isto é, o quão difícil vai ser continuar a baixá-la. É que, como disse Karl Otto Pohl (Presidente do banco central alemão de 1980 a 1991) ao Institutional Inquirer em 1980, a inflação é como a pasta dos dentes: uma vez que se tira do tubo é muito difícil voltar a metê-la lá dentro.
Comece por notar-se uma coisa: baixar a inflação não é acabar com as subidas dos preços, é apenas subi-los mais devagar. Quando nos EUA a taxa de inflação caiu do pico de 9,1% em junho para 7,1% em novembro, a quinta queda mensal sucessiva e o valor mais baixo do ano, apenas se conseguiu que os preços só estivessem a aumentar 7,1% num ano, mesmo assim um aumento colossal: em seis anos a nossa poupança já só compraria metade dos bens. Estima-se que a inflação nos EUA caia para 7% em dezembro, uma descida de 0,1 pontos num mês; a este ritmo, levaremos quatro anos e três meses a trazê-la para o objetivo de 2%. É fácil compreender a dificuldade da Fed em começar a abrandar já.
A inflação é como um imposto, pago por quem tem posições nominais fixas e recebido por quem emite a moeda, que a “vende” a um preço (compra bens) e a “recompra” mais tarde a um custo mais baixo (vende aqueles bens mais caros). Penaliza quem tem depósitos ou vive de pensões, o que a torna num imposto regressivo. Por isso, os governos atualizam as pensões todos os anos. A 2% de inflação, os preços levam mais de 35 anos a duplicar, o que parece aceitável.
Portanto, a questão para os EUA (e para o resto do mundo) é dupla: se estamos na altura de abrandar e, se sim, quanto se deve abrandar. Isto atendo aos riscos, sobretudo o de um exagero poder levar o país à recessão, saltar da frigideira para cair no lume.
Há componentes estruturais na inflação: a pressão sobre os salários é real (o desemprego permanece a 3,7% em novembro) e o redesenho das cadeias produtivas tem custos perenes. Amanhã não é a véspera do dia da vitória sobre a inflação, e o combate vai durar. Se a Fed vai abrandar, não vai ser por convicção, vai ser para medir o pulso, o wait and see dos britânicos. Está vencida uma batalha, mas ainda não acabou a guerra.