Nas últimas semanas, a revolta dos cidadãos europeus e o receio dos políticos, trouxeram alguns benefícios, traduzidos num autêntico leilão de aumentos de salários mínimos.

Em Portugal o salário mínimo para função pública sobe 55 euros, em França 100 euros e em Espanha 150 euros. Estes valores, muito superiores à inflação, têm como principal objectivo acalmar as populações que estão descontentes com a acção dos seus governos e com o projecto europeu, e visam sobretudo travar o eurocepticismo. Não tenhamos dúvidas de que esta compra de tempo é momentânea e não vai servir para conter a desilusão decorrente do incumprimento das promessas feitas pelos políticos europeus.

Em Portugal, as sucessivas greves alimentam o desalento em face da ausência de soluções. Existe uma diferença abismal na interpretação das greves. Se estivermos perante uma greve e um governo liderado pela direita, então estamos perante uma afronta aos direitos dos trabalhadores. Se o governo for liderado pela esquerda então estamos perante a chantagem dos trabalhadores e toda a comunicação é focada na limitação da liberdade.

Não é plausível falar em incentivos para o regresso de emigrantes quando um país não funciona ao nível da saúde, da educação, dos transportes públicos e da justiça. Nenhuma greve ou problema deve ser politizado ou popularizado, sob pena de termos uma sociedade que reage aos likes e toda uma gestão de curto prazo ao invés de estabilidade, que todos os agentes económicos necessitam para poder tomar decisões.

Não é assim de estranhar que no último ano as bolsas europeias tenham sido muito mais penalizadas do que qualquer outro mercado desenvolvido. Nenhum investidor, quer estar à mercê de greves, incerteza, brexits feitos sobre o joelho, e convulsões sociais que de um momento para o outro se podem tornar incontroláveis e produzir efeitos na economia que não são mensuráveis.

O distanciamento dos EUA face à UE é cada vez maior. As bolsas americanas acumulam pequenos ganhos enquanto que as bolsas europeias sofrem perdas superiores a 15%. Os investidores estão a sinalizar que, apesar de todos os tweets do presidente Trump e da incerteza que produzem, preferem ter o seu dinheiro nos EUA. Só este facto deveria pôr Bruxelas a pensar no que anda a fazer de errado.

Mais de dez anos depois da crise financeira, a zona euro ainda não dispõe de mecanismos para se proteger de uma nova crise, muito porque não existe vontade política de resolver os problemas. Infelizmente não é pelo tempo passar que os problemas serão resolvidos. Os políticos europeus devem ter a consciência de que o tempo dos leilões está a terminar e que a opinião e a vontade dos cidadãos não é passível de ser comprada.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.