A 19 de julho passado escrevi sobre os leilões fotovoltaicos, portanto antes destes ocorrerem, fazendo futurologia sobre o impacto que os resultados destes leilões teriam sobre a fatura do consumidor doméstico.

Tal como disse uma vez em direto na rádio um famoso futebolista nacional, antes de um derby numa entrevista rápida antes do jogo começar, quando lhe perguntaram pelo prognóstico ele respondeu lapidarmente: “Prognósticos só depois do jogo”. Também é reconhecido que “a ciência da previsão é muito difícil, principalmente quando diz respeito ao futuro”.

Isto para dizer que no meu artigo do mês passado falhei, como aliás eu tinha consciência disso, por ser um apologista do que escrevi no parágrafo anterior. Apesar disso, não deixei de fazer a minha análise de futurologia. Falhei eu como falhou qualquer um que tivesse feito esse prognóstico. Pensava e penso que um valor médio entre 30 e 35€/MWh seria razoável, mas para não parecer demasiado otimista apresentei os resultados da minha análise considerando o valor superior de 35€/MWh.

Falhei redondamente pois, de acordo com os resultados oficiais, o valor médio foi de 20,967€/MWh, oscilando entre 14,78 e 39,76€/MWh, uma relação de 1 para 2,7 –surpreende-me como se obtiveram resultados tão baixos. E acima de 30€/MWh apenas foram ofertados em 67 MW dos 1.300, portanto cerca de 5% dos que foram arrematados neste processo concursal, um valor que considero residual.

Perante estes resultados torna-se necessário corrigir as minhas previsões, que agora passaram a ser certezas, pois o jogo já terminou, e o resultado já foi homologado na secretaria, e com isto quero dizer que todos os vencedores já pagaram as respetivas cauções e agora começam a contar os cerca de três anos que eles têm para pôr as suas centrais a trabalhar.

Assim, o valor médio dos 1.300 MW adjudicados foi de 21€/MWh, arredondando o valor real de 20,967€/MWh, para uma produção média anual de 2.275 TWh, isto é 4,1% do consumo no Continente nesse ano estimado em 55 TWh. Também se prevê que nesse ano o valor médio no MIBEL será de 52€/MWh, semelhante à média de 2019 e que já foi excedido num passado recente, embora seja possível uma ligeira redução.

Ora esta poupança de 31€/MWh sobre o preço de mercado é muito elevada, mas como contribuição destas novas centrais no total da produção é pequena, traduz-se numa redução de 1,28€/MWh no preço médio final da eletricidade no mercado. Importa traduzir esta redução na fatura mensal do consumidor.

Em Portugal cada consumidor doméstico consome por ano 1,2 MWh, e cada agregado familiar tem em média 2,2 pessoas, portanto a poupança na fatura mensal é de 0,28€, ou seja 3,39 €/ano (a minha previsão em julho foi de 2,27 €/ano), isto é, uma poupança anual de 0,47% (0,70%).

As conclusões mantêm-se: é um valor pequeno, mas de grande significado. Estas poupanças aumentarão com o aumento da potência atribuída neste tipo de regime, e as tarifas garantidas terminando. Também será importante a redução na fatura pela diminuição da dívida tarifária. Tudo isto vai contribuir para que a nossa fatura não cresça, antes diminua.

Fica feita a correção, e termino fazendo votos para que todas estas centrais estejam construídas antes do prazo limite para bem de Portugal, da nossa Economia, e claro dos Consumidores.