A gestão de empresas tende a ser uma coisa muito fria, disciplinada e com planos de muito rigor. As chefias procuram exercer a sua função o melhor possível, dentro das responsabilidades atribuídas, num compromisso com o prático interesse da empresa – os resultados.

De uma forma geral, as pessoas estão na empresa com o seu melhor espírito empresarial, a sua melhor atitude pessoal e, a cada momento, o foco é garantir que o seu profissionalismo não é questionado.

Todas as pessoas na empresa, desde as funções operacionais aos cargos de liderança, tendem a vivenciar o dia a dia empresarial com muita assertividade e compromisso.
Porém, todos sabemos que as discussões existem, os erros existem, as empatias existem e a falta dela ainda mais.

As pessoas querem ser uma coisa, mas acabam a ser outra. A consistência desvanece-se rápido. A atitude perde o seu equilíbrio com mais frequência que o desejado. As pessoas surpreendem-se com essa dualidade comportamental e a rapidez com que surge. São reais manifestos da vulnerabilidade do Ser.

Mas, aplicando foco e esforço, quase sempre usando um ar sério, reservado, cético e parco em palavras, as pessoas conseguem estabilizar o comportamento. Perdem naturalidade, mas ganham em estabilidade. No dia a dia da empresa são uma coisa e quando saem do trabalho, libertam-se, parecem outras. O esforço para serem consistentes num estilo, numa atitude, num comportamento termina quando põem o pé fora da empresa.

São muitas as pessoas que vivem uma vida entre as 9 e as 19 e outra vida no restante tempo, comportamentos diferentes, no trabalho e fora dele.

É isto que vemos com muita frequência. Uma dualidade comportamental que, apesar de não estar mal porque se sentem mais estáveis na empresa, não é menos verdade que sentem ser duas coisas, dois estados de alma. Não tem nada a ver com dupla personalidade porque é apenas uma forma de controlar a própria emocionalidade.

Apesar de parecer normal e a gestão de topo ficar satisfeita com esta estabilidade dos profissionais, em boa verdade, essa vulnerabilidade das pessoas, que as leva a trabalhar em esforço emocional, vem do ambiente de trabalho da própria empresa.

É corrente ver nas empresas profissionais com ar sério, distante, quase inacessíveis, mas, quando as encontramos fora desse ambiente percebemos o sentido de humor, a sua naturalidade, brincam e são emocionais como todos os outros humanos. Que pena não serem assim na empresa!

Esta diferença de comportamento parece-me uma perda de energia criativa. A empresa, o trabalho, tem um papel decisivo na vida das pessoas e quanto mais natural for, melhor para ambas as partes. As pessoas devem estar na empresa como elas são, com toda a sua emocionalidade, sentimentalidade, pensamento e atitude. Assim podem aplicar todas as suas virtudes ao serviço da empresa, desde logo a criatividade e proatividade.

Quanto mais as pessoas são elas mesmas, mais a sua entrega é real e nesta entrega está a vontade em encontrar soluções para os problemas, para as dificuldades. Uma das grandes debilidades nas empresas resulta de as pessoas olharem para os problemas e não os tomarem como seus. São problemas da empresa, certo, mas se os tomarem como seus, ao ponto de os transcender, de lhes aplicar criatividade, inovação estão a fazer uma travessia para a solução.

E então? Como evoluir neste mindset empresarial?

As empresas podem ser mais pacificadoras de relações, mais previsíveis na gestão de tensões, mais serenas na gestão de conflitos, mais amigáveis com as pessoas e as suas circunstâncias. E como se altera isso?

Aplicando amor no relacionamento na empresa como se estivéssemos fora dela, descodificando o amor por compreensão, empatia e suporte, quer na gestão de equipas quer na gestão de dificuldades. Da mesma forma que uma empresa tem objetivos a cumprir, também deve ter valores a praticar e, uma boa gestão saberá seguramente fazê-lo – escolher bem os objetivos e os valores.

Cada pessoa é uma vida, é uma situação, logo uma empresa tem de ser capaz de encaixar essas vidas numa única realidade, num coletivo. Para além de fazer uma gestão por objetivos, há que instituir uma liderança por valores. O amor, trocado por miúdos, podem ser os valores que fomentam o espírito de empresa.

Parece possível, parece praticável, parece ser bom e, por onde começar? Começando.