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Líbano: Saad Hariri nomeado primeiro-ministro pela terceira vez

A principal missão do líder sunita é formar um governo o mais rapidamente possível para enfrentar a pior crise do país desde a guerra civil. Fica a aguardar-se a resposta internacional a esta decisão, que parece mudar pouco as perspetivas políticas do país.
22 Outubro 2020, 17h40

O líder libanês (sunita) Saad Hariri obteve apoio parlamentar suficiente esta quinta-feira para ser novamente nomeado como primeiro ministro do país. Será a terceira vez que o líder do bloco político sunita assume o cargo, após consultas entre o Presidente da república, o cristão Michel Aoun, com os líderes dos principais partidos.

Hariri recupera o comando de um país atolado na mais séria crise económica e social desde os anos da guerra civil (1975-1990). O novo primeiro-ministro prometeu encontrar um executivo de “especialistas”, disse, para fazer o país sair da crise. Hariri tinha há poucas semanas manifestado a sua disponibilidade – mas num quadro político, depreendia-se das suas palavras, em que tivesse plenos poderes para levar a cabo o seu plano de reorganização da economia e de luta contra a corrupção.

Na altura, o novo (e antigo) primeiro-ministro apelou a uma larga convergência entre os diversos partidos e tendências que controlam o Líbano político – e aparentemente foi isso que conseguiu Michel Aoun.

Há apenas um ano, Hariri (que nasceu na Arábia Saudita há 50 anos) renunciou após várias semanas de protestos em todo o país pedindo uma mudança de governo para enfrentar a grave crise económica que já então se verificava no Líbano. A situação só piorou com a explosão de um depósito no porto de Beirute em agosto passado e com a pandemia.

“Vou formar um governo de especialistas não partidários e vou trabalhar para formar um governo rapidamente porque o tempo está a esgotar-se e esta é a última oportunidade,” declarou Hariri num breve discurso à nação. Fica por esclarecer se os manifestantes que há um ano deram mostras de ter esgotado a paciência para Hariri vão desta vez aceitar mais uma fase em que o voltarão a ter à frente dos destinos do país.

Mas esta não é a única incógnita: os países que têm prestado auxílio ao Líbano desde agosto já explicaram que só vão voltar a encaminhar novas ajudas (financeiras) para o Líbano se tiverem provas de que o governo local está de facto empenhado no combate à corrupção – que tem dado um verdadeiro sumiço aos fundos que são destinados ao país.

Aliás, um dos grande problemas que Hariri enfrentará é precisamente o de convencer o FMI e o Banco Mundial de que o país está a entrar no caminho da luta contra a corrupção – primeiro passo para conseguir um empréstimo externo urgente, com um ‘caderno de encargos’ que com certeza será pesado para a economia libanesa.

Hariri é o terceiro primeiro-ministro libanês depois de o seu sucessor há um ano, Hasan Diab, ter renunciado ao lugar na sequência da explosão em Beirute. O seu sucessor, Mustapha Adib fez o mesmo há um mês, após ter-se revelado incapaz de formar um governo devido à falta de acordo entre os diferentes partidos políticos, que partilham o poder com base em quotas confessionais ( existem 18 confissões religiosas no país ).

O falhanço de Adib, recorde-se, irritou especialmente o presidente francês, Emmanuel Macron, que havia prometido ajuda em troca de reformas políticas e descreveu o impasse como uma “traição coletiva” da classe dominante à população daquele ex-protetorado francês.

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