Em Madrid esteve tudo em jogo no chamado 4M. Mesmo se tivermos em conta que se trata da capital, nunca umas eleições locais tiveram tanto peso e impacto na política nacional de Espanha. A conjugação dos diferentes factores fez com que, ao mesmo tempo, se fizesse um julgamento do governo de esquerda/extrema-esquerda e uma aferição da capacidade de regeneração e dinâmica de vitória do Partido Popular. O grande albergue sanchista foi pesadamente derrotado e o caminho de renovação da direita democrática foi inequivocamente vencedor.

A dupla Sánchez/Iglesias trouxe a Espanha o pior governo de que há memória. Uma gestão irresponsável e absolutamente catastrófica da pandemia, uma resposta permanentemente desfocada face aos interesses das pessoas, uma guerra cultural permanente contra a alma de Espanha. Se é verdade que o serviço sujo foi maioritariamente protagonizado por Iglesias e pelos sequazes do Podemos, Sánchez não deixou de ser um colaboracionista da fúria opressora, totalitária e persecutória do Podemos.

Ser fraco, não é desculpa num primeiro-ministro. Ser fraco em tempo de convulsão e incerteza, pior ainda. Mas, Sánchez não é apenas fraco, tacticista ou incapaz, tem, também ele, o ímpeto divisionista, o excesso ideológico, a incapacidade de compreensão da complexa realidade espanhola. Agarrou-se a todo o custo ao poder, fez sem hesitar o pacto com o mais sinistro diabo, dispôs-se a tudo sem limites éticos, iniciou a destruição sistemática do que socialistas responsáveis como Felipe Gonzalez contribuíram decididamente para edificar. As campainhas de alerta dos socialistas democratas fizeram-se ouvir persistentemente, mas Sánchez preferiu sempre ouvir o seu aliado corrupto.

Por outro lado, Pablo Casado é um resistente e um persistente. Derrotado no início da caminhada, sabia que o grande plano que protagoniza para Espanha não se impõe do dia para a noite, após uma profunda crise no PP. Assumindo a liderança natural da oposição, teve a perseverança inteligente de não ceder à pressão da espuma dos dias; cada decisão sua foi típica do homem da maratona.

É muito interessante recordar o seu registo aquando da moção de censura apresentada pelo VOX ao governo. No debate da moção, Casado fez um discurso absolutamente memorável, separando águas, pondo o PP acima dos diferentes oportunismos em presença, salvaguardando-se face a ambos os extremismos populistas que ensombram Espanha. Na altura, muitas franjas da direita ibérica, entre populistas e gente de pouca fé, vaticinaram o fim de Casado, por não ter cedido ao populismo trauliteiro de Abascal, o que corresponderia na direita à legitimação que Sánchez fez de Iglesias à esquerda.

Passados seis meses Ayuso e Casado ganham Madrid, correm com Iglesias do palco principal e anunciam a Sánchez o caminho de saída por uma porta que o próprio desenhou pequena.

O PP fez exactamente o que um grande partido de oposição deve fazer. Escolheu um caminho exigente e coerente, propondo uma alternativa séria para Espanha. Acima de tudo, face a uma decadência ética sem precedentes, a limitações das liberdades individuais e colectivas inaceitáveis, a uma deriva irresponsável sobre a unidade nacional, as instituições e a Constituição, bem como o fomento permanente da divisão e tensão de uma sociedade de equilíbrios delicados, o PP respondeu sempre com responsabilidade e com a democracia e a liberdade. A liberdade foi sempre o mote do PP.

Isabel Ayuso soube ser a voz da vontade de libertação, do regresso da cidadania, do primado da democracia. Foi a ruptura com o dogmatismo bafiento de alguma direita, quebrou barreiras e preconceitos, esteve com o povo, puxando pelo melhor de cada um, em detrimento da forma destrutiva e negativa de fazer política que se afirma noutras paragens. Isabel Ayuso é um excelente exemplo a ter em conta, Pablo Casado mostra a cada dia que está solidamente a caminho da Moncloa, para aí restaurar a democracia saudável que permitirá a Espanha a união e progresso de que tanto precisa. Como disse no momento da vitória, “Madrid é o quilometro zero da mudança em Espanha!”

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.