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Líbia: primeiro-ministro pede novamente apoio da ONU

Fayez Sarraj insiste com as Nações Unidas para que promovam a realização de eleições, mas parece traçar uma linha vermelha para afastar o general Haftar do processo.
25 Setembro 2020, 17h40

O primeiro-ministro da Líbia, Fayez Sarraj, pediu que os opositores ao seu regime – concentrados em torno do general Khalifa Haftar – optassem por aceitar as recomendações do Conselho de Segurança das Nações Unidas e aceitassem trabalhar com o Governo de Acordo Nacional (GNA), reconhecido internacionalmente pela maioria dos países.

Para que o cessar-fogo declarado em agosto seja efetivo e permanente, as regiões de Sirte e Jufra, ainda sob o controlo de Haftar, devem ser desmilitarizadas e os mercenários estrangeiros devem deixar o país, sublinhou Sarraj – que também pediu à ONU que investigue as violações cometidas pelas milícias Haftar em Sirte.

Recorde-se que o governo de Trípoli e um parlamento autoproclamado na cidade oriental de Tobruk e ligado a Haftar concordaram no mês passado com um cessar-fogo e com a realização de eleições até março de 2021. No entanto, o exército líbio relatou várias violações do cessar-fogo por parte das milícias de Haftar.

Sarraj pediu o apoio da ONU para a realização de eleições presidenciais e parlamentares, já que o país, dilacerado pela guerra, permanece dividido entre as administrações rivais no leste e no oeste, cada uma apoiada por grupos armados e governos estrangeiros. A ONU reconheceu o governo de Sarraj como autoridade legítima do país desde 2015, mas os esforços para um acordo político de longo prazo falharam devido à ofensiva militar das forças leais a Haftar.

Depois de conversas recentes entre os dois lados da guerra (mantidas em Marrocos), Sarraj disse que estava disposto a deixar o cargo até ao final de outubro, para dar lugar a um novo governo que possa realizar eleições. E admitiu que as eleições são a única forma de acabar com aquilo a que chamou “crise de legitimidade” do governo líbio.

Mas a intervenção do Sarraj traçou uma linha vermelha: o diálogo político será com todas as fações e regiões da Líbia, com a exceção dos “derramaram sangue líbio”, o que pode querer dizer que os rebeldes ficarão de fora do perímetro das eleições. Se assim for, não será por certo fácil organizar umas eleições isentas de violência e aceites por todos.

Sarraj acrescentou que o GNA “cooperou sempre com as Nações Unidas e provou ser um defensor da paz e respondeu aos resultados e decisões da conferência de Berlim”, realizada em janeiro e onde as potências mundiais concordaram num processo de paz que em grande parte acabaria por cair por terra.

O governo exortou as milícias armadas a depor as armas, alertando que estavam a arriscar um frágil cessar-fogo, e saudou os compromissos de líderes políticos no leste da Líbia que fizeram o mesmo e retomaram a produção de petróleo, mas “no entanto, ainda não vimos a cooperação dos grupos armados e das milícias agressivas; na verdade, só vimos comentários hostis dos seus porta-vozes e violações do cessar-fogo por parte das suas forças”.

O GNA conta com o apoio da Turquia e do Catar, para além da própria ONU, enquanto Haftar tem contado com o apoio da França, Egito, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Rússia.

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