Naquela fração de segundo em que Marcus Rashford percebeu que o seu “penalty” iria bater no poste italiano, teria sido muito útil que pudesse fazer aquela baliza mexer-se. Apenas cinco centímetros seriam suficientes para que o seu objetivo fosse cumprido e, quem sabe, a Inglaterra poderia mesmo ter sido campeã.

O principal objetivo do Banco Central Europeu (BCE) é promover a estabilidade de preços, segundo o disposto no Artigo 127º 1. do Tratado sobre o funcionamento da União Europeia. Desde 2003, a definição de “estabilidade de preços” passava por manter a taxa de inflação homóloga, harmonizada (HICP) abaixo, mas perto, de 2%, no médio prazo.

A inflação na zona euro irá ultrapassar os 2% muito em breve, colocando em causa esse objetivo.  Não obstante, a maioria dos membros do BCE não quer alterar a atual política monetária que mantém os juros em níveis muitíssimo baixos. Invoca-se a necessidade de continuar a estimular a economia em contexto de pandemia, embora também se intua que não seja um bom momento para os juros subirem quando os países estão mais endividados e a União Europeia irá pedir emprestado para financiar os Planos de Recuperação e Resiliência.

Para resolver o problema, o BCE optou por aquilo Marcus Rashford gostaria de ter feito: mudar a baliza de sítio. Na semana passada, o BCE alterou ligeiramente em alta a sua meta da inflação para 2% e, tão ou mais importante, admitiu que a situação atual poderá implicar um “período transitório em que a inflação está moderadamente acima do objetivo”.

Alterando a meta, o BCE passou a si mesmo uma licença para manter a política monetária. Assim é bastante mais fácil marcar golos!