O novo presidente dos EUA tem tido um conjunto de decisões difíceis de entender, sobretudo para os países aliados, havendo quem defenda uma pretensa racionalidade subjacente. Estas tentativas já foram designadas de “sanewashing”, ao pretenderem encontrar uma sanidade inexistente, similar ao “greenwashing” de muitas empresas, que exibem uma fachada “verde” a uma realidade muito mais cinzenta.
Há quem defenda a necessidade de responder de forma quase tão violenta como as provocações de Trump, mas parece-me que a Europa precisa de pensar a longo prazo, enquadrando a sua resposta naquilo que são os seus interesses para lá dos próximos quatro anos e, já agora, do que é preferível para a humanidade em geral.
Sendo os EUA e a UE aliados naturais, não tendo, aliás, nenhum dos dois aliados alternativos com a mesma dimensão e importância, seria preferível que ambos limitassem os seus desentendimentos ao mínimo. Era importante actuar como força moderadora do nosso parceiro, quer na sua relação connosco, quer com o resto do mundo. Se o actual líder norte-americano, quase sem equipas com qualidade e coragem para o confrontarem, não está em condições de o fazer, será necessário que a UE assuma o papel do “adulto na sala”.
O tempo de Trump vai passar, algumas das suas políticas mais extremas provavelmente também, pelo que era importante que um futuro líder norte-americano não tivesse graves razões de queixa da UE. Era muito importante não cairmos na armadilha de responder com excessos aos que venham do outro lado do Atlântico.
Se é fácil definir estes princípios, aplicá-los já será muito mais difícil, porque parece que o nosso parceiro se sente atraído pelo confronto. Espero que os líderes europeus recorram a psiquiatras e psicólogos como conselheiros para gizar a melhor forma de lidar com um líder tão “especial”.
No campo da segurança, 80 anos depois do fim da II Guerra Mundial, 24 anos após a implosão da URSS, 11 anos passados da ocupação da Crimeia e quase três da invasão da Ucrânia, a UE só se pode queixar de si própria por ainda estar tão mal preparada. Dada a complexidade do tema, não acrescentarei mais nada.
Na vertente económica, já aqui defendi e repito que se deve evitar retaliar às tarifas que venham a ser impostas pelos EUA, faltando perceber a verdadeira natureza da proposta de “tarifas recíprocas”. Vamos sofrer com as tarifas norte-americanas e sofreríamos ainda mais se lançássemos novas tarifas, conduzindo a nova retaliação do outro lado, entrando numa espiral recessiva sem fim à vista.
Há quem defenda que é preferível entrar numa atitude de “olho por olho”, sob pena de ficarmos com uma imagem de fracos e sermos alvos de novas tarifas. Mas isso é exactamente o que acontecerá se respondermos, pelo que esta argumentação não tem muita lógica.
Em relação ao sector tecnológico, era preferível almejar à paridade com os EUA e a China, sobretudo na Inteligência Artificial, do que pretender regulamentar (leia-se “mandar”) as empresas dos outros.
Finalmente, tal como Macron já sugeriu, devemos aproveitar os desafios colocados por Trump, para mudar muita coisa na UE, que não está a funcionar, como o crescimento, a regulamentação e um longuíssimo etc.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.