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Linha “Facilidade Exportação Segura 2021” alargou o leque de mercados

A renovação da linha de apoio aos seguros de crédito permite alargar o leque dos mercados passíveis de Seguro de Crédito. No entanto, os operadores precisam de ampliar a medida ao mercado interno.
11 Abril 2021, 19h00

A não concessão de limites de crédito para algumas empresas e o alargamento da “Facilidade Exportação Segura 2021” ao mercado interno são alguns dos pedidos da indústria que trabalha com os Seguros de Crédito à exportação. E o exemplo vem da Alemanha cujas empresas beneficiam destas facilidades públicas mais amplas e que lhes dá vantagem competitiva.

Fragilizado pela pandemia e pelo mercado recessivo, o Seguro de Crédito à exportação viu reduzidas as responsabilidades no ano passado na ordem dos 20%. Em simultâneo o custo da sinistralidade aumentou devido aos incumprimentos de empresas em países tradicionalmente recetores dos produtos nacionais. As ajudas chegaram através de apoios públicos autorizados por Bruxelas. Mas o sector dos Seguros de Crédito está a passar por outras transformações. Acácio Ferreira, da Willis Towers Watson, diz que “questões como o reforço da importância do comércio eletrónico em detrimento do comércio a retalho tradicional, as alterações de hábitos de consumo, a importância das questões climáticas e de sustentabilidade para os consumidores, a mudança de paradigma energético na indústria automóvel, entre outras, estão a ser exponenciadas pela crise que atravessamos e que vão motivar transformações significativas na forma de interagir e nos sectores de atividade que terão maior sucesso com a retoma”. Isto “para além dos impactos em termos financeiros” que as medidas de mitigação da crise e de recuperação irão causar aos Estados e às empresas, nomeadamente através do aumento do nível de endividamento, “que acarretarão incertezas sobre a capacidade de as mesmas evoluírem/sobreviverem”.

Os governos europeus tiveram essa sensibilidade em meados do ano passado quando lançaram os apoios públicos aos seguros de crédito. A Portugal só chegaram em junho, embora para outros países europeus tenha sido possível o respaldo público cerca de três meses antes. Relembremos que as responsabilidade dos seguradores de crédito caiu 20% até setembro último e a crise sanitária que rapidamente passou a crise económica e recessão técnica teve impacto forte em todos os sectores, com destaque para o turismo, aviação, agências de viagens, hotelaria e restauração. O sector da construção civil, nomeadamente com o crescimento da reabilitação, foi uma exceção a uma queda generalizada da atividade. Isto significou na ótica de gestores do sector, um aumento da sinistralidade da ordem dos 50%, o que se refletiu nos prémios. A expectativa é que rapidamente Portugal consiga o respaldo também para o mercado interno. Diz ainda o mesmo gestor da WTW que “a minimização dos efeitos financeiro-económicos desta crise no tecido empresarial português e respetivo impacto em termos sociais não pode ser conseguida sem o apoio às empresas que atuam no mercado doméstico. É fundamental para minimizar o número de falências de empresas e salvar empregos que as transações existentes possam ser executadas num ambiente de certeza de crédito.

A dimensão do mercado interno, o número de empresas e de trabalhadores envolvidos requer uma melhor atenção do Estado”. Acrescenta que não se está a falar de um financiamento, “mas sim da promoção de um ambiente favorável à atividade económica”. Recorde-se que sendo a economia portuguesa aberta, o não alargamento do apoio ao Seguro de Crédito no mercado interno, permite que fornecedores internacionais que beneficiam de programas mais agressivos por parte dos seus Estados possam oferecer melhores condições de crédito no mercado português, penalizando os fornecedores nacionais.

E a grande pergunta é saber o que irá acontecer em 2021. Já vimos uma antecipação positiva por parte da Crédito y Caución, a qual adianta nas suas previsões elaboradas em meados deste mês de fevereiro, que as economias avançadas crescerão 3,9% em 2021, algo que não é suficiente para contrariar a queda do PIB nos países europeus e da América do Norte. E há uma base de otimismo nomeadamente com a nova administração nos EUA e sobre a qual é expectável uma “política mais ortodoxa” e sobre o acordo comercial UE/Reino Unido, o qual significa mais barreiras comerciais mas afasta o temido “hard Brexit”. O plano de vacinação europeu está para durar e isso significa que continuarão as medidas de confinamento em toda a Europa. Não se sabe por quanto tempo nem a sua intermitência, mas há algo que é comum a todos os analistas: o ano de 2021 não permitirá recuperar os níveis de crescimento que os vários países europeus e da América do Norte estavam a experienciar no período pré-Covid.

Também o segurador Coface, através do seu economista-chefe, Julien Marcilly (que concluiu há dias o encontro anual sobre “risco-país”), lembra que a recuperação económica não beneficiará da mesma forma todos os sectores de atividade. Na sua análise relativa ao 4º trimestre de 2020 diz o economista que é de antecipar melhorias para o sector automóvel europeu, também para a construção civil e para o sector químico mas, em contraste, haverá sectores cuja atividade manter-se-á deprimida pela pandemia e dá o exemplo dos transportes, ligando-se aqui à aviação e ao turismo. Diz ainda que economias asiáticas que estão a reagir bem como a China e Taiwan e que “embelezam” a recuperação mundial, não revelam a extensão dos danos provocados pela pandemia. A verdade é que as principais economias maduras não conseguirão até final de este ano recuperar o crescimento pré-crise. E fala sobretudo das economias que mais dependem dos serviços, caso de Espanha e do Reino Unido. Portugal está certamente entre as economias que mais perdem com a fraca performance dos serviços.

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