O anúncio da candidatura de Carlos Moedas à presidência da Câmara Municipal de Lisboa foi visto como uma mudança no recente marasmo social-democrata relativamente à luta pela autarquia da capital. Um desprendimento que, em 2017, se traduziu na escolha de uma candidata que apenas recebeu 28.356 votos, ou seja, 11,23% do total. Um resultado que deixou claro que um partido com um tão reduzido nível de aceitação na capital não podia sonhar governar o país. Daí a derrota nas legislativas que se seguiram.

Em 2017, o PSD copiou aquela que constitui a regra da vida do PCP, ou seja, só conseguiu captar o voto dos militantes indefetíveis. Aqueles que votam no partido qualquer que seja o candidato. Uma estratégia passível de ser classificada como ausência da mesma.

Depois de mais um mandato socialista que, talvez para fazer jus ao apelido do Presidente, pareceu apostada em transformar Lisboa numa medina patrulhada pela EMEL e destinada a acolher os pombos e os turistas, antes da pandemia espantar os segundos, Carlos Moedas considerou que este não era o momento para dizer ‘não’.

A governação socialista, em contraciclo com o discurso, continuou uma política de despovoamento da capital e, salvo honrosas exceções a cargo das Juntas de Freguesia, esqueceu-se que o envelhecimento e a solidão de uma parte considerável da população exigiam uma sistemática política de proximidade.

Quando Maquiavel ofereceu “O Príncipe” a Lourenço de Médicis, fez questão de dizer que tanto a oportunidade sem talento como o talento sem oportunidade estavam condenados ao fracasso. No caso presente, face à existência de oportunidade, cabe a Carlos Moedas mostrar que tem talento. O passado político não se constitui como elemento suficiente. Pode servir de indicador, mas nada mais do que isso.

O desafio joga-se no presente. Passa por convencer os eleitores lisboetas de que dispõe de uma estratégia passível de, num primeiro momento, devolver os habitantes à cidade e, logo de seguida, devolver a cidade aos habitantes. Dois desideratos necessários e que terão de ser compatibilizados com uma política que saiba acolher os turistas quando a pandemia ficar sob controle. Uma estratégia que aposte em saber receber e que faça de Lisboa uma cidade cosmopolita, mas no respeito pela qualidade de vida dos residentes.

A circunstância de o apelido do candidato assumir a forma plural traz à memória que, também na vida, existem duas moedas e que, segundo a lei de Gresham, é a má moeda que expulsa a boa. Uma temática que se insere na área de especialização de Cavaco Silva, como, aliás, o próprio já fez questão de trazer ao domínio público. Cabe a Carlos Moedas reverter essa lei. Mostrar que a boa moeda pode expulsar aquela que classifica como má.

Uma tarefa que vai implicar a conjugação de um leque alargado de vontades. Por isso, no ato de apresentação pública da candidatura, Moedas fez questão de frisar que precisará de apoios para além dos partidos. Daí ter mencionado os “independentes vindos da sociedade civil, desencantados ou desinteressados da política ou simplesmente cansados desta governação socialista”.

Como se diz na sua Beja natal, Moedas está perante uma enorme ‘trabalhera’. A recusa da Iniciativa Liberal em fazer parte do projeto foi apenas o primeiro percalço. Outros se seguirão. Lisboa é um fruto demasiado apetecível. O PS tudo fará para manter a montra do Poder.