Lisboa foi distinguida como a Capital Verde Europeia 2020 por mérito da sua evolução nos últimos anos. A redução em 46% do consumo de água, 42% das emissões poluentes e uma taxa de 38% de recolha seletiva são importantes sinais. Outro ótimo sinal é a maneira como as forças vivas da cidade se envolveram nesta celebração. As escolas, por exemplo, estão a apresentar centenas de projetos e a trabalhar todos os aspetos do problema ambiental, desde os jardins de infância ao 12º ano.
Mas a ciência diz-nos que a emergência climática é real e que a ação tem de ser rápida e decisiva. Ou seja, é preciso mais para que este galardão não seja apenas mais um galardão e que as ações sejam mais do que simbólicas, como é o caso da plantação de árvores de domingo, 12 de janeiro.
A emergência climática é o desafio mais importante que a humanidade já enfrentou e a resposta política, incluindo das autarquias, tem de ir ao encontro das metas que a ciência indica como necessárias.
Para alcançar as metas previstas para Lisboa no programa da Capital Verde 2020 temos de melhorar os transportes públicos, com mais autocarros, alargar a rede do metro e ter mais comboios, reduzindo drasticamente o uso do automóvel privado, que representa ainda 68% das deslocações. Precisamos de superar a dependência dos combustíveis fósseis e concretizar a transição energética. Necessitamos melhorar a eficiência energética dos edifícios públicos, nomeadamente dos bairros municipais: a pobreza energética tem de ser erradicada antes de 2050.
É inaceitável que em Lisboa, que tem um terço da população acima dos 60 anos, se continue a morrer porque os seniores não têm meios para aquecer a sua casa. Como se tem dito nas mobilizações pelo clima por todo o mundo e em Lisboa: justiça climática é justiça social.
Da mesma forma, é impossível compreender porque é que a cidade se mobiliza para ser Capital Verde 2020 e assistimos a decisões políticas que vão no sentido contrário. A expansão do aeroporto da Portela, cujo ruído e emissões prejudicam a saúde de quem vive em Lisboa e Loures, põe em causa o cumprimento das metas nacionais de emissões de gases de efeito de estufa.
Outro exemplo é o terminal de cruzeiros, que é responsável por 10% do total de emissões nacionais e por 3,5 vezes mais emissões de dióxido de enxofre que todos os automóveis em Lisboa. Uma Capital Verde que não aborde estas questões não será mais do que uma flor na lapela.
Se queremos dormir descansados por ter ganho um prémio, então Lisboa pode ser Capital Verde 2020. Mas se queremos de facto criar as condições para realizar a transição energética e de mobilidade e implementar as medidas de mitigação dos efeitos das alterações climáticas, então temos de fazer muito mais em Lisboa e em todo o país.