O projecto ZER – Zona de Emissões Reduzidas Avenida Baixa Chiado é mais um passo da Câmara Municipal da Lisboa (CML) para a transformação da capital num parque temático.

A mesma CML, que vai vencendo eleições por conta da já famosa promessa de casas de renda acessível na cidade, é a mesma que expulsa a população residente no centro transformando a área num parque de diversões, exclusivo para turistas e estrangeiros residentes com visto gold.

Mais uma vez, o presidente, Fernando Medina, voltou a usar uma técnica de apresentar a proposta do ZER ao público através da comunicação social, poucos meses antes da implementação prevista das medidas, sem primeiro as comunicar à vereação.

E no que consiste o ZER? É uma Zona de Emissões Reduzidas onde circulam apenas veículos autorizados e prometem-nos melhores condições de circulação, estacionamento para residentes, sendo que prometem reduzir o tráfego de atravessamento, melhorar o espaço público na zona histórica da cidade e promover o comércio local. Será mesmo assim?

Quando vamos consultar a informação disponível do projecto saltam logo à vista verdadeiros atentados à vida dos moradores nas zonas históricas. Para começar, só serão admitidos veículos eléctricos. Ora, que alternativas tem um cidadão sem condições económicas para adquirir um? E o que dizer da medida pidesca que limita cada morador à permissão da entrada até ao máximo de dez visitas por mês, obrigando a fornecer as matrículas às entidades?

Mas não é aqui que se esgotam as contradições e absurdos. A proposta promete reduzir em 40% os carros no centro e as emissões, mas foi o mesmo executivo que tudo fez para transformar Lisboa numa Veneza de segunda categoria, a cidade europeia que mais navios de cruzeiro recebeu em 2017.

De acordo com o estudo apresentado recentemente pela Federação Europeia para os Transportes e Ambiente (T&E), Lisboa encontra-se no sexto lugar entre as cidades europeias mais expostas à poluição por navios de cruzeiro — depois de Barcelona, Palma de Maiorca, Veneza, Civitavecchia (Roma) e Southampton.

Segundo as contas apresentadas no estudo, os navios de cruzeiro que passaram pela capital libertaram 3,5 vezes mais óxidos de enxofre, um gás que provoca problemas respiratórios, dores de cabeça e indisposição, que os 375 mil automóveis que circulam diariamente na capital. E não são só os navios de cruzeiro a contribuir para a poluição, as emissões dos navios que abastecem em Portugal é equivalente à poluição das oito cidades portuguesas com mais carros registados.

Comparando os dados do estudo da T&E com o inventário oficial de emissões de óxidos de enxofre da Agência Portuguesa do Ambiente, concluímos que as emissões dos navios de cruzeiro na costa portuguesa foram 86 vezes superiores às emissões dos automóveis que circulam no país (5.100 toneladas em relação a 59 toneladas, respectivamente).

Perante estes dados e as apostas e investimentos contraditórios da CML na cidade, é caso para perguntar se Lisboa enquanto Capital Verde Europeia é para ser levada a sério.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.