Segundo dados provenientes de um estudo do Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo, a pressão turística em Lisboa, e também no Porto, é superior àquela que se verifica em Londres ou em Barcelona.
De acordo com esse estudo, por dia, concentram-se em Lisboa 300 turistas por cada quilómetro quadrado, sendo o número de turistas nove vezes superior ao número de moradores. Com efeito, basta “aterrar” na zona da Baixa e do Chiado, em qualquer dia da semana, e um comum português sente-se no epicentro de uma verdadeira “bolha” internacional.
Avenidas, ruas, pracetas, atulhadas de estrangeiros das mais diversas proveniências, monumentos e museus “tomados” pelos ditos, acessos interditos à circulação automóvel, ementas alimentícias ao gosto quase exclusivo dos “camones”, tuk-tuks para todos os gostos e feitios em atropelo desenfreado das regras de trânsito e dos restantes modos de mobilidade, etc..
Ora, se quanto às vantagens económicas e financeiras refletidas designadamente no aumento dos proveitos da restauração e hotelaria e na criação de emprego os números falam por si, certo é que urge refletir sobre o outro prato da balança, ou seja, identificar e perceber os aspetos negativos advindos deste crescimento turístico exponencial e que podem assumir dimensão muito relevante no curto, médio e longo prazo.
Desde logo, e talvez como tema mais “quente” e debatido nos últimos tempos, a especulação imobiliária que torna hoje praticamente impossível a um português médio aceder à habitação em Lisboa e sobretudo em zonas centrais, seja por aquisição, seja por arrendamento.
Depois, olhar também para a pressão ambiental, para as evidentes alterações e dificuldades criadas ao nível da mobilidade, para a falta de regulação da vasta teia de novos negócios direta e indiretamente relacionados com o turismo, para a pressão demográfica sobre a periferia e ainda para o risco de perda de identidade interna e de referenciais culturais.
Desse modo, mais do que gastar rios de tinta e tempos de antena televisivos em troca de argumentos na lógica de prós e contras, compete ao poder central e local, em articulação com os vários agentes económicos envolvidos, delinear com celeridade uma estratégia conjunta e assente numa verdadeira gestão sustentável do crescimento turístico.
Não sendo esta, obviamente, uma matéria de fácil e unívoca resolução, certo é que alguns caminhos poderão desde já apontar-se, a saber:
1. Procurar desviar o turismo concentrado quase em absoluto na zona baixa e histórica de Lisboa, para outros pontos da cidade (designadamente a zona oriental), criando e divulgando roteiros para o efeito;
2. Em linha com a alínea anterior, evitar a prática corrente de corte de estradas em zonas centrais da cidade para a prática de atividades pedonais lúdico desportivas, deslocando essas mesmas atividades para zonas de baixa densidade populacional;
3. Criar sistemas de transporte urbano dedicados ao turismo estrangeiro (autocarros; elétricos), com prioridade aos veículos amigos do ambiente;
4. Regulamentar de modo exequível, eficaz e burocraticamente “clean”, o transporte por meio de veículos alternativos, como sejam os tuk-tuks;
5. Envolver os residentes nas zonas de maior pressão turística no debate da matéria, ouvindo e tomando boa nota das suas principais preocupações;
6. Olhar para exemplos bem sucedidos vindos de fora, como Londres ou Amesterdão, e procurar aí um conjunto de best practices.
Assim coexistam Lisboa e Lisbon!