Ao longo do ano passo algum tempo fora do país, seja em trabalho ou em lazer, e tento fazer sempre observações elogiosas a Portugal. Como a maioria dos portugueses, acabo de regressar de férias onde estive a visitar a Grécia. Visitei Atenas pela primeira vez há mais de 25 anos e regressei agora. Confesso que o sentimento dececionante a respeito da arquitetura e zonas históricas permanece a mesma, contudo fiquei com um sentimento de vergonha da cidade de Lisboa quando comparo o estado de limpeza e cuidado das estradas e zonas públicas entre as duas cidades.
Após visitar determinados destinos, a comparação do asseio, iluminação e simples esmero é francamente frustrante, mas tenho por hábito “desculpar” o estado da cidade de Lisboa com o tamanho do erário público municipal. Ora, desta vez não funciona de todo…
Ambos os países estão dependentes do turismo como forte contribuição para o PIB, mas a Grécia continua a ser o país mais endividado na Europa. Basta uma observação informal ao percorrer o país para entender que a recuperação económica da Grécia continua frágil e está mais demorada. Temos motivos de orgulho quando nos comparamos com os Gregos. Superamos a Grécia em PIB total ou per Capita. Investimos mais em saúde e educação do que a Grécia. Até estamos à frente no ranking de competitividade e de inovação, mas a nossa capital está francamente mais suja!
Para além da acumulação de lixo espalhado por toda a cidade, presumo que estejamos prestes a inaugurar um novo jardim que atravessa a cidade inteira através da nossa célebre calçada portuguesa… A minha tarefa doméstica ao regressar de férias foi arrancar ervas com mais de meio metro de altura que infestavam o passeio à porta de casa. O problema é que agora o meu lado da rua destoa dos restantes. Peço desculpa aos vizinhos…
Na semana passada atravessei Monsanto de carro e a quantidade de vegetação seca e maltratada é lamentável, sem falar do perigo de incêndio e da consequências que o mesmo teria para a qualidade da cidade.
A par da limpeza há um problema de má iluminação ou falta da mesma, mesmo em zonas centrais da cidade. No outro dia fui jantar junto do Saldanha e regressei a casa a pé pela Avenida da República. No espaço de 200 metros, três dos candeeiros de rua estavam desligados e os restantes ofereciam muito pouca iluminação. O problema não está limitado a esta zona, mas é algo transversal a grande parte da cidade e que tem repercussões várias entre as quais na própria segurança.
Por fim, nesta carta aberta de reclamações, junto uma observação sobre as estradas e pavimento da cidade. Ora, julgo ser justa quando afirmo que não há uma zona da cidade com os acessos em condições desejáveis. Sejam as vias principais (2ª Circular, IC 19, A5) sejam as avenidas principais (Liberdade, República, Gago Coutinho, Janelas Verdes) ou as ruas dos bairros, está tudo em mau estado. Se o trânsito já desafia o estado de humor do residente lisboeta, a falta de um único piso de alcatrão novo leva-nos ao desespero.
Por conseguinte, termino o meu lamento pedindo uma observação e consequente ação no sentido de tornar Lisboa mais limpa, iluminada e com estradas e passeios em condições apetecíveis para condutores e transeuntes. Porque se estamos à frente da Grécia nos restantes indicadores, queremos mesmo ficar atrás no asseio e brio?