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Listas de deputados do PS têm renovação escondida com continuidade de fora

Proposta final aprovada por 83% da Comissão Política podem deixar de fora três dezenas dos atuais deputados. Depois das despedidas de Ferro Rodrigues e Jorge Lacão sucedem-se exclusões de veteranos como José Magalhães, mas também alguns jovens foram parar a lugares dificilmente elegíveis.
  • Homenagem do grupo parlamentar do PS a Ferro Rodrigues
    Foto: Grupo parlamentar do PS
14 Dezembro 2021, 17h50

As listas de candidatos a deputados do PS às próximas legislativas tiveram um processo de aprovação bastante mais tranquilo do que sucedeu no PSD, mas ainda assim poderão levar à saída de três dezenas dos atuais elementos do grupo parlamentar socialista. Esse número está dependente da votação que o partido vier a obter a 30 de janeiro de 2022 e de quantos e quais eleitos não chegarão a exercer mandato caso os socialistas voltem a formar governo.

Apesar de a continuidade ter sido palavra de ordem ao longo do processo, que culminou na aprovação pela Comissão Política Nacional na segunda-feira, com 83% de votos favoráveis, alterando-se apenas sete cabeças de lista, diversos veteranos acabaram por se ver excluídos. Além das saídas já anunciadas do presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, e de Jorge Lacão, deixam de fazer parte do grupo parlamentar Ascenso Simões (que em 2019 fora o primeiro por Vila Real), o constitucionalista Pedro Bacelar Vasconcelos, a antiga ministra da Administração Interna Constança Urbano de Sousa e a ex-secretária de Estado Catarina Marcelino, devendo acontecer o mesmo ao ex-secretário de Estado Jorge Gomes, que passa de primeiro para terceiro (e último) por Bragança, onde o PS deverá voltar a eleger só um deputado.

Especialmente marcante é a saída de José Magalhães, que desta vez não foi integrado na quota nacional gerida por António Costa pelo círculo do Porto. Depois de ter voltado a ganhar protagonismo devido à autoria da polémica Carta Portuguesa dos Direitos Humanos na Era Digital, o deputado de 69 anos deverá terminar uma carreira parlamentar iniciada na terceira legislatura, em 1983, então eleito pelo PCP. Depois de ter rompido com esse partido em 1990, Magalhães manteve-se no Parlamento enquanto independente e desde 1991 tem sido eleito pelo PS, no qual passou a militar em 1999, exercendo o mandato tirando quando foi secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, da Administração Interna e da Justiça. Afastado do Parlamento e de Portugal por alguns anos, reassumiu o mandato em 2014.

Apesar de algumas listas do PS parecerem fotocópias das que foram entregues em 2019 – em Aveiro, Pedro Nuno Santos volta a ser o primeiro e repetem-se pela mesma ordem os sete candidatos seguintes, ocorrendo o mesmo com os três candidatos de Évora e nos círculos da emigração, enquanto em Viseu só troca a ordem entre o líder distrital José Rui Cruz (agora terceiro) e o secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Rebelo (quarto) -, entre os seis cabeças de lista afastados estão Sónia Fertuzinhos (Braga) e Hortense Martins (Castelo Branco), somando-se a Ascenso Simões (Vila Real), Luís Testa (Portalegre), Isabel Rodrigues (que agora surge num terceiro lugar de incerta elegibilidade pelos Açores), Jorge Gomes (Bragança) e ainda Raul Castro (Leiria), que renunciara ao mandato para liderar a (vencedora) candidatura independente à presidência da Câmara da Batalha.

Tendo as listas de 2019 “perdido” ao longo da encurtada legislatura figuras como o ex-ministro das Finanças e atual governador do Banco de Portugal Mário Centeno, o ex-secretário de Estado das Finanças e atual vice-presidente do Banco Europeu de Investimentos, Ricardo Mourinho Félix, a ex-ministra do Mar e atual presidente do Instituto de Mobilidade e Transportes Ana Paula Vitorino, bem como os presidentes das câmaras municipais de Loures e de Vila Franca de Xira, Ricardo Leão e Fernando Paulo Ferreira, sai agora também das listas o ex-ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, que há dois anos fora o número dois por Setúbal.

Para o lugar de Cabrita transita o atual ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, que nas últimas legislativas tinha sido sétimo por Lisboa, em apenas uma das “transferências” de círculo eleitoral que envolveram destacadas figuras socialistas. Para Braga vai como cabeça de lista o secretário-geral-adjunto José Luís Carneiro (quinto pelo Porto em 2019) e o secretário de Estado da Internacionalização Eurico Brilhante Dias transita de segundo da lista por Castelo Branco para a mesma posição na lista de Leiria, agora encabeçada pelo mediático secretário de Estado adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales.

Também em mudanças, o secretário de Estado Adjunto e da Energia, João Galamba, trocou o quarto lugar por Setúbal pelo 11.º por Lisboa, num movimento que gerou alguma polémica, pois a Federação da Área Urbana de Lisboa havia indicado que ficasse ainda mais acima, acabando por recuar um lugar após decisão final de António Costa, que também resgatou Romualda Fernandes para o 19.º lugar, depois de a deputada ter ficado uma dezena de lugares abaixo na primeira versão da lista. Mas nada de parecido fez pela ex-presidente da Juventude Socialista, Maria Begonha, que de terceira por Braga tombou para 27.ª por Lisboa, o que torna a sua permanência na Assembleia da República difícil de concretizar, tal como a de Alexandra Tavares Moura, que passa de 25.ª a 29.ª pelo mesmo círculo, e a do especialista em questões laborais Eduardo Barroco de Melo, que passa de 19.º a 29.º prelo Porto.

Sindicalistas e nova geração ganha peso

Em sentido contrário, o peso da UGT faz-se sentir numa legislatura em que se coloca a hipótese de o PS estar mais afastado de convergências à esquerda. Os dirigentes Sérgio Monte ocupa a oitava posição por Lisboa e Ana Paula Bernardo é a sexta pelo Porto, constando entre as novidades pelo segundo maior círculo eleitoral, ao lado do efémero candidato à presidência da Câmara do Porto Eduardo Pinheiro (10.º da lista) e do deputado municipal portuense Rui Lage (13.º).

Entre as escolhas mais “fora da caixa” destaca-se a cantora lírica Elisabete Matos, que será a segunda candidata a deputada por Braga. Mas entre as novidades estão ainda a secretária de Estado dos Recursos Humanos e Antigos Combatentes, Catarina Sarmento e Castro (terceira por Leiria) e a ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, que passa a ser a cabeça de lista por Castelo Branco.

Também desta vez nas listas de deputados, mas provavelmente a caminho do Conselho de Ministros, o ex-presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, aparece em quinto lugar na lista de Lisboa, logo abaixo do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, também presidente da Federação da Área Urbana de Lisboa do PS. Do outro lado do Tejo também vai integrar as listas de candidatos o seu homólogo da Federação de Setúbal, António Mendonça Mendes (em quinto lugar), tendo o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais a sua irmã, Ana Catarina Mendes, novamente à frente de uma lista reforçada por João Gomes Cravinho e pelo secretário de Estado adjunto e da Defesa Nacional, Jorge Seguro Sanches (quarto).

A renovação passa ainda pelas listas socialistas nas regiões autónomas, com o ex-líder parlamentar regional Francisco César, filho do ex-presidente do governo açoriano Carlos César, a ascender a cabeça de lista pelos Açores, à frente de Sérgio Ávila, que deverá regressar à Assembleia da República, enquanto Miguel Iglésias, ex-líder parlamentar do PS na Assembleia Legislativa Regional da Madeira, ocupará a segunda posição nesse círculo, atrás de Carlos Pereira.

Sem novidades, António Costa volta a liderar em Lisboa, com a provável futura presidente da Assembleia da República, Edite Estrela, em segundo, e a ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, em terceiro. No Porto mantém-se o cientista Alexandre Quintanilha, seguido por Rosário Gamboa e pelo ministro do Ambiente e Ação Climática, Matos Fernandes. E a repetição de cabeças de lista abrange Aveiro (Pedro Nuno Santos), Beja (Pedro do Carmo), Coimbra (Marta Temido), Europa (Paulo Pisco), Jamila Madeira (Faro), Augusto Santos Silva (Fora da Europa), Alexandra Leitão (Santarém), Tiago Brandão Rodrigues (Viana do Castelo) e João Azevedo (Viseu).

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