Foi com enorme tristeza que li uma publicação de um partido, referindo-se à literacia financeira como uma falácia. Inicialmente pensei tratar-se de uma publicação falsa, tal foi minha estupefacção. Juntar na mesma frase “literacia financeira”, “culpabilizar” e “proposta ideológica” é de uma enorme desonestidade, falta de carácter e uma tentativa de estupidificação da sociedade portuguesa e de aproveitamento de um estudo sério realizado pelo todoscontam.pt.

A literacia financeira não é mais do que aprender, compreender e utilizar conceitos e informações económico-financeiras para melhorar a nossa vida, e que deve começar cedo, aos quatro anos, quando a criança começa a ter a percepção de dinheiro.

Conceitos como a gestão da mesada, o orçamento familiar, a utilização de simuladores de gastos para melhor controlo da despesa, a constituição de um fundo de emergência e como utilizá-lo, o consumo presente em contrapartida ao consumo futuro, a pou-pança e investimento, a curva de utilidade, a curva de preferências de consumo e de investimento de cada um.

E também os investimentos, com as vantagens e riscos a acautelar, que tipo de investimentos existe, como gerir o risco, que perguntas fazer quando se pede um empréstimo, que tipo de empréstimos existe e como evitar o endividamento excessivo, o que acontece se não pagar as dívidas, como posso optimizar a minha carga fiscal, como posso negociar com a minha entidade patronal melhores condições tendo em consideração os impostos de cada componente da remuneração, entre muitos outros conceitos, deviam ser obrigatórios desde a escola primária.

Quem os entender terá uma vantagem competitiva enorme e é meio caminho para o sucesso. Por outro lado, estes conceitos são essenciais para a saúde mental, ainda pouco associada ao dinheiro, mas um dia, quando a vergonha de falar destes temas passar, lá chegaremos. O dinheiro traz felicidade, sim, e isso deve ser dito tantas vezes quantas forem necessárias. O stress e as discussões familiares prendem-se, na maior parte dos casos com a falta de dinheiro, causando sérios problemas ao agregado familiar.

Os portugueses ainda estão paralisados à espera do Estado, do subsídio. Mas este Estado é o mesmo que apenas terá dinheiro para pagar menos de 50% do valor do último salário na reforma, dentro de 30 anos. É o mesmo Estado no qual, segundo o referido estudo, 84,5% dos portugueses ainda confiam.

A literacia financeira não é apenas uma responsabilidade, mas também uma obrigação da sociedade, que ajuda a evitar burlas e fraudes em esquemas que prometem rentabilidades elevadas e proliferam especialmente nos momentos difíceis. Só assim poderemos ter uma sociedade onde a criação de riqueza chega a todos.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.