Quando falamos de diversos setores, de temas como poupança, desenvolvimento do mercado de capitais ou de transição digital, é obrigatório
colocar-se a questão da literacia, porque se entende que nem todos estão preparados para decidir, o que obriga a um esforço de informação e divulgação. Só que os resultados de Portugal no inquérito às competências dos adultos feito pela OCDE indiciam que o problema é mais profundo.
Na literacia, 42% dos inquiridos obtiveram uma pontuação de primeiro nível ou abaixo deste, o que significa que têm uma baixa proficiência neste domínio e, no máximo, uma compreensão limitada a textos curtos e listas organizadas. Na numeracia – a capacidade de perceber e usar os números, sobretudo em operações aritméticas –, 40% dos adultos em Portugal estão, também, no Nível 1 ou abaixo, conseguindo fazer cálculos básicos com números ou dinheiro e encontrar trechos de informação em tabelas ou gráficos, mas debatendo-se com dificuldades em tarefas que exijam várias etapas, como encontrar proporções. E na resolução de problemas, 42% obtiveram resultados iguais ou inferiores ao primeiro nível de proficiência.
Em todos os casos, Portugal situa-se abaixo da média da OCDE e nos últimos lugares da tabela. Mas este não é um problema de ranking, de estarmos melhor ou pior do que o vizinho ou o concorrente, este é um problema de cidadania. Num mundo cada vez mais complexo, quem não tem condições para decidir de forma informada na política, na economia, no dia-a-dia, não cumpre o seu papel na sociedade ou o seu potencial.
Mais: é um alvo para a manipulação e terá, no fim da linha, quem decida por si.