Nas eleições americanas o mundo inteiro devia votar, dado o efeito do que se passa lá sobre as economias e sociedades de todo o planeta.
Estamos, aliás, num momento particularmente incerto nos EUA, quando as eleições de meio de mandato podem mudar o equilíbrio político no país: é elevada a verosimilhança dos democratas perderem o controlo da Câmara do Representantes e a possibilidade de acontecer o mesmo no Senado, o que poderá colocar o Presidente Biden em maus lençóis, a governar contra as duas câmaras do Congresso. Se a vida de Joe Biden não tem sido fácil e tem tido alguma dificuldade em fazer avançar as suas políticas, imagine-se o que será neste contexto.
A razão da queda dos democratas é a economia, em primeiro lugar a inflação. Há um sentimento de descontentamento com Biden, cujo suporte caiu de 53% em janeiro de 2021 para 42,5%; simetricamente o descontentamento subiu de 36% para 53,6%. Os eleitores acham os republicanos mais aptos para controlar a inflação e baixar os impostos, com mais de 10 pontos de vantagem nas sondagens em qualquer dos dois.
Na Câmara dos Representantes os democratas têm 222 deputados, quando a maioria é obtida com 218; em 2018 tinham 235. Terça-feira o fivethirtyeight.com dava uma probabilidade de 83% dos republicanos ganharem a Câmara e 51% de ganharem o Senado. Como se não bastasse, boa parte dos candidatos republicanos são pró-Trump, alguns abertos defensores de que as eleições de 2020 foram “roubadas”.
Com uma vitória dos republicanos três coisas irão acontecer: a primeira é, na frente interna, o entrave sistemático à política económica e social dos Democratas, criando dificuldades adicionais à gestão do Presidente e a limitação da despesa (mesmo se houver recessão) e a possibilidade de um shutdown da Administração.
Mas na frente externa tudo será mais complexo, com a pressão para uma deriva protecionista facilitada pela força do dólar e o potencial abrandamento do apoio económico e militar à Ucrânia, ambos graves para a Europa.
Portanto, o indicador económico mais seguido do momento é e vai continuar a ser a taxa de inflação nos EUA. Enquanto estiver alta, as taxas de juro vão subir. A um dia e cinco horas da reunião do Federal Open Market Committee, a probabilidade de um aumento de 75 pontos base é de 87%, calculada pela CME Fed Watch Tool. Este aumento tornou-se inevitável depois da taxa de inflação “core” americana (exclui energia e produtos alimentares, componentes mais voláteis do índice de preços) ter atingido 6,63% em setembro, o valor mais alto em 40 anos.
Vamos, portanto, ter mais um salto na taxa de juro americana, o quarto aumento consecutivo desta dimensão este ano, e a taxa de juro passará de quase zero no princípio do ano para mais de 4% no fim. Mais uma acha na fogueira, e um novo desafio para o Banco Central Europeu que vai ter de realinhar a sua. Mas o pior de tudo é voltarmos a ter Trump no horizonte.