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Livro: “Caminhantes”

O subtítulo deste livro – “Flâneurs, Passeantes, Walkmans, Vagabundos, Peregrinos” – dá-nos algumas pistas preciosas sobre uma arte em vias de extinção. A saber, caminhar.
20 Julho 2024, 10h53

“O certo é que não caminhamos nada ou caminhamos pouco e mal. Caminhamos sem ver, sem contemplar, sem nos entregarmos ao passeio”. Encontramos esta constatação de et c logo na introdução do seu livro “Caminhantes – Flâneurs, Passeantes, Walkmans, Vagabundos, Peregrinos”, agora editado em português pela Flâneur, com tradução de Mariano Tomasovic Ribeiro.

Na era do automóvel e dos telemóveis, caminhar parece uma arte em vias de extinção. E, aqui, entende-se a prática da caminhada não como um exercício físico, mas como o resultado da ação do espírito da cidade, que arrasta o flâneur pelas suas ruas. Caminhar e contemplar, caminhar e refletir, eis o destino do flâneur contemporâneo.

Scott convoca uma série de escritores, pensadores e artistas – procedendo, por vezes, a associações imprevistas – para quem caminhar é uma forma de meditação estética e filosófica, de imaginação literária e política. De São Inácio de Loyola a Damon Albarn (vocalista da banda britânica Blur e cocriador da Gorillaz), passando, como seria inevitável, por Baudelaire; mas, também, R. L. Stevenson, o autor de “A Ilha do Tesouro” que tem um livro dedicado à sua Edimburgo natal, Jorge Luis Borges, o espanhol Antonio Machado, claro, W. G. Sebald.

 

 

São muitos os nomes que o autor vai buscar para corroborarem a ideia de que caminhar ajuda-nos a decifrar o mundo que nos rodeia e a nós próprios. Mesmo que não se chegue a lado nenhum. Caminhar como modo de ler o espaço, com uma forte vertente introspetiva, é contribuir para cidades mais humanas. De certa forma, o ato da marcha proporciona uma diminuição da imensidão urbana, ao mesmo tempo que encolhe a cidade envolvente, alargam-se os horizontes mentais.

Edgardo Scott nasceu em 1978, na província de Buenos Aires, colabora com diversos órgãos de comunicação da Europa e América Latina e vive em França.

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