“A cozinha foi montada junto às rochas próximas da minha tenda, num buraco que tínhamos cavado nos detritos da colónia dos pinguins. As caixas de provisões proporcionavam algum abrigo do vento, e uma vela aberta impedia que alguma da neve caísse sobre o cozinheiro enquanto trabalhava. Ele tinha muito pouco tempo livre. A quantidade de bifes e gordura de foca e de elefante-marinho consumida pelo nosso esfomeado grupo era quase inacreditável.”
No polo sul, o sol nasce apenas uma vez por ano (no equinócio de setembro) e põe-se também apenas uma vez (no equinócio de março), pelo que há seis meses de luz e outros seis de escuridão. E, devido ao movimento das placas tectónicas, a sua localização exata está sempre a mudar. Contudo, quando comparado com o polo norte, é mais acessível aos viajantes e cientistas, por estar numa placa de terra (ainda que seja preciso escavar mais de 2.700 metros de neve para a encontrar), ao contrário do ponto mais setentrional do planeta, no meio do oceano Ártico.
Depois da conquista do polo sul, em 1911, pelo norueguês Roald Amundsen, o objetivo dos grandes exploradores desta época fixou-se na travessia do continente antárctico de mar a mar.
Em 1914, um grupo liderado pelo experiente explorador Ernest Shackleton propõe-se fazê-lo. A distância de aproximadamente 2.900 quilómetros será percorrida, em grande parte, sobre terreno desconhecido. A determinação inabalável, a lealdade e a resistência deste pequeno grupo de homens, isolado durante quase dois anos nos bastiões do gelo polar, esforçando‑se por levar a cabo a sua missão, são uma narrativa única na história da exploração do continente.
Uma aventura inesquecível, de dias extenuantes, noites de solidão e experiências únicas. O otimismo inicial é de curta duração; uma vasta extensão de gelo envolve o navio no qual viajam, apertando-o até o quebrar, obrigando a tripulação de 28 homens a uma luta feroz e desigual pela sobrevivência na imensidão do gelo polar, num terreno inóspito, rodeado de mares gelados e tempestuosos, cheios de ondas gigantes e icebergues colossais, com um frio atroz que não dá tréguas e na sempre iminente ameaça da fome.
Em “Sul – A Expedição Mais Perigosa do Mundo”, Sir Ernest Henry Shackleton (1874-1922) narra os longos meses desta viagem – em que, miraculosamente, toda a tripulação consegue salvar-se – e que será para sempre recordada como prova da força de vontade e do poder da resistência humana.
Da Alma dos Livros, com tradução de Ana David.
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