A discussão sobre a temática da mobilidade nas cidades tem-se focado principalmente no movimento de pessoas através de transportes, sejam eles públicos ou privados, nos novos modelos de economia partilhada sustentados em plataformas digitais, na adoção de meios suaves para distância curtas e nas potenciais novas tecnologias associadas a veículos elétricos, veículos autónomos e meios de pagamento integrados.

Sendo um tema menos discutido, a temática da logística urbana encontra desafios específicos relacionados com o transporte eficiente e eficaz de mercadorias em áreas urbanas, tendo um papel cada vez mais relevante na melhoria da mobilidade e na garantia da sustentabilidade ambiental (planeta), social (pessoas) e económica (lucro) das cidades.

De uma forma geral, os efeitos de concentração e influxo de população para as cidades conduzem a menores velocidades de circulação e maior congestionamento. Também as políticas de condicionamento da utilização de veículos privados (através de mecanismos de pricing dos transportes de públicos – subsidiação de transportes públicos e custos de parqueamento nos centros) e melhoria da acessibilidade e segurança dos pedestres, levam a que o desenho das vias propicie velocidades menores de circulação e que as áreas pedonais aumentem, agravando assim a velocidade de circulação, também para os distribuidores de mercadorias.

É, no entanto, o boom do e-commerce que maior desafio coloca à logística urbana. A necessidade de entrega de pequenas mercadorias em número e frequência (a velocidade de entrega é cada vez mais um requisito dos consumidores) tem vindo a aumentar exponencialmente e, se é verdade que as novas tecnologias de sensorização, localização e otimização de rotas, associados aos sistemas de informação dos agentes da cadeia de valor têm vindo a dar um contributo positivo para amenizar os desafios, e tornar mais eficientes as operações, não são ainda assim suficientes.

Adicionalmente, no caso Português, em que muitas cidades têm observado um aumento significativo de turistas, existe um impacto na dinâmica de mobilidade com a necessidade de um reforço do reabastecimento de novos hotéis e restaurantes (canal HORECA de uma forma geral) para dar resposta ao consumo crescente.

Políticas públicas que retirem das cidades grande parte do tráfego originado pelo transporte de mercadorias e sua substituição por redes multinível de distribuição, com centros de concentração e distribuição nas áreas limítrofes das cidades, e formas e meios ambientalmente mais sustentáveis para entregas no last mile tornam-se um imperativo no planeamento da mobilidade das cidades.