Desde a primeira hora, fiéis à matriz e aos valores humanistas fundadores dos sindicatos, que nos temos batido pela moldura criminal do assédio no local de trabalho. Quando outros se dedicavam a ser correias de transmissão de interesses alheios aos trabalhadores, o Sindicato Nacional dos Quadros e Técnicos Bancários (SNQTB) contribuiu para que opinião pública e legisladores tomassem consciência da importância de lutar contra o assédio.
Todos nos lembramos do caso extremo de Cristina Tavares, operária corticeira, cabeça de casal em família monoparental, discriminada reiteradamente por parte da entidade patronal. Honrando a justiça portuguesa, sucessivos juízes e instâncias têm condenado a empresa, em decisões transitadas em julgado.
Não se pense, contudo, que o caso de Cristina Tavares é um episódio isolado. Ou que situações como a sua se passam apenas no contexto de uma PME fabril. Infelizmente, é também uma realidade no contexto dos serviços e dos trabalhadores dos sectores de conhecimento intensivos. Por isso, é importante que este tema seja discutido em sede do Conselho Económico e Social, seja no continente, seja nas regiões autónomas.
Também por isso o SNQTB criou uma linha de denúncia, garantindo segurança, confidencialidade e protecção aos denunciantes. Numa iniciativa pioneira, a que a comunicação social tem dado, e bem, destaque. Mas com sentido de responsabilidade, advindo de as denúncias necessitarem de ser assentes em elementos probatórios sólidos. E não serem elas próprias fontes de assédio, agora de sentido ascendente.
Compete às empresas fornecerem o treino, a qualificação e a certificação para que os gestores de linha e de recursos humanos sejam capazes de detectar, prevenir e actuar prontamente sobre comportamentos tóxicos, destruidores de valor accionista e atentatórios dos valores fundamentais da dignidade humana.
O sector financeiro foi capaz de lidar com os códigos de conduta voluntários, primeiro, e depois com as exigências dos reguladores e legisladores, dotando-se de competências e quadros de pessoal, infra-estruturas, software e processos para a prevenção do branqueamento e lavagem de capitais.
Exigimos o mesmo rigor, compromisso e envolvimento da gestão de topo, no combate às práticas de assédio moral, e uma liderança inequívoca pelo exemplo. Lideranças essas que não podem eximir-se a responsabilidades que não são endossáveis a responsáveis intermédios e a alegados casos isolados.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.