No passado Sábado, a ABCNews dedicou um artigo aos Açores, que são descritos como um destino “maravilhosamente remoto, com vistas impressionantes e intocadas”. No mesmo dia, a easyJet fez a última ligação entre Lisboa e Ponta Delgada, abandonando a rota que ajudou a liberalizar.

Foi a 29 de Março de 2015 que aterrou em São Miguel o primeiro voo da easyJet. Segundo dados do Serviço Regional de Estatística dos Açores, nesse mês, a hotelaria tradicional do arquipélago registou cerca de 61 mil dormidas. Em Março de 2017, esse número tinha passado a mais de 110 mil. Ao mesmo tempo, o “Hawai do Atlântico”, como lhe chamou o site de viagens Fathom, era nomeado na categoria de melhor destino insular europeu dos World Travel Awards. Nos últimos dois anos, os Açores foram a região portuguesa onde o turismo mais aumentou. Claro que ser o campeão do crescimento é mais fácil quando se tem a menor quota de mercado. Mas ter hóspedes, dormidas, proveitos globais e RevPar a crescer a 20% não deixa de ser notável.

O voo inaugural da easyJet inaugurou uma nova etapa do turismo açoriano. Pode ter sido coincidência ou correlação, mas há vários estudos – como, por exemplo, o de Vânia Costa e Cláudia Almeida ou o de Chung e Whang – que atribuem às companhias low-cost o aumento dos fluxos turísticos. Por outro lado, contrariando uma ideia comum, Juan Eugenio-Martin e Federico Inchausti-Sintes, da Universidade de Las Palmas de Gran Canaria, concluíram que parte das poupanças decorrente de tarifas aéreas mais baixas é convertida em maior despesa no destino, resultado que eu tinha obtido a partir de um estudo aplicado à Madeira.

Não admira, pois, que a desistência da easyJet da rota para Ponta Delgada tenha deixado o Presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada preocupado. Convém, contudo, notar que muitas destas operações, sendo de baixo custo para os passageiros, envolvem custos para os contribuintes, já que as companhias são, sob formas diversas, subsidiadas, numa lógica semelhante à das ladies’ nights, como bem explica o Luís Gaspar, nesta entrada do blog Destreza das Dúvidas. Se os benefícios gerados superam os custos suportados é matéria que vale a pena estudar.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.

 

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