“Tenho a certeza de que o atual Governo está à espera de culpar o executivo anterior por tudo isto, mas o risco é que isso pode contribuir para uma perceção de que a corrupção é geral em Angola, e não apenas uma análise específica sobre o Governo de José Eduardo dos Santos”, disse John Ashbourne.
Em declarações à Lusa, o analista considerou que as pessoas não foram surpreendidas pela abrangência da investigação jornalística divulgada no domingo e que a defesa de Isabel dos Santos não deverá chegar para mudar a opinião generalizada.
“Não tenho a certeza de que a investigação vai mudar a opinião dos investidores sobre Angola; duvido que muita gente tenha sido convencida pela defesa de Isabel dos Santos, de que é uma empreendedora e que cresceu empresarialmente por si própria”, considerou o analista.
“Apesar de não termos conhecido os detalhes, penso que a maioria das pessoas não foi surpreendida” pela divulgação dos documentos sobre a atividade empresarial de Isabel dos Santos e das suas empresas, concluiu o analista.
O Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ) revelou no domingo mais de 715 mil ficheiros, sob o nome de ‘Luanda Leaks’, que detalham esquemas financeiros de Isabel dos Santos e do marido, Sindika Dokolo, que terão permitido retirar dinheiro do erário público angolano, utilizando paraísos fiscais.
Isabel dos Santos disse estar a ser vítima de um ataque político orquestrado para a neutralizar e sustentou que as alegações feitas contra si são “completamente infundadas”, prometendo “lutar nos tribunais internacionais” para “repor a verdade”.
De acordo com a investigação deste conjunto de órgãos de comunicação social, entre os quais o Expresso e a SIC, Isabel dos Santos terá montado um esquema de ocultação que lhe permitiu desviar mais de 100 milhões de dólares (90 milhões de euros) para uma empresa sediada no Dubai e que tinha como única acionista declarada a portuguesa Paula Oliveira, amiga de Isabel dos Santos e administradora da operadora NOS.
Os dados divulgados envolvem também o advogado pessoal da empresária, o português Jorge Brito Pereira (sócio da Uría Menéndez, o escritório de Proença de Carvalho), o presidente do conselho de administração da Efacec, Mário Leite da Silva (CEO da Fidequity, empresa com sede em Lisboa detida por Isabel dos Santos e o seu marido), e Sarju Raikundalia (ex-administrador financeiro da Sonangol).
A investigação revela ainda que, em menos de 24 horas, a conta da Sonangol no EuroBic Lisboa, banco de que Isabel dos Santos é a principal acionista, foi esvaziada e ficou com saldo negativo no dia seguinte à demissão da empresária da petrolífera angolana.
Na segunda-feira, a consultora PricewaterhouseCoopers (PwC) e o banco EuroBic anunciaram o corte de relações contratuais ou comerciais com empresas controladas por Isabel dos Santos, enquanto a Sonae disse estar a acompanhar a situação com preocupação, devido à alusão à NOS, controlada pela ZOPT, da qual é acionista, tal como Isabel dos Santos.
O Governo português, pela voz do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, remeteu o assunto para as entidades reguladoras competentes, ou seja, Banco de Portugal e Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.
O regulador da atividade bancária disse que retirará as devidas consequências de informação recebida do EuroBic, enquanto o Ministério Público afirmou que “não deixará de analisar toda a informação que tem vindo a público e de desencadear os procedimentos adequados no âmbito das suas atribuições”.
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