Poderia ter escolhido escrever sobre a composição do próximo governo, sobre a dificuldade de o PS conquistar votos nos eleitores mais jovens, sobre os próximos passos do Chega ou o novo papel do Presidente da República. Todos estes temas são mais urgentes do que aquele que trago, mas muitas vezes aquilo que é urgente não é necessariamente o que mais me comove, inquieta ou faz pensar.

Regresso à noite eleitoral e ao discurso de Luís Montenegro. A vitória não deixa margem para grandes festejos, mas há grandes festejos. O futuro primeiro-ministro está rodeado de gente por todos os lados. Gente que o apoiou na estrada, uns mais entusiastas do que outros, gente que, como é da praxe, subiu ao palanque para festejar a vitória e recolher os louros ao lado do líder.

Do lado de fora, perto dos militantes comuns, estava surpreendentemente o braço-direito de Luís Montenegro. A câmara da RTP apanhou-o de fugida e aquela imagem foi para mim uma das mais fortes da noite. Hugo Soares que tanto arriscara no apoio a Montenegro, que sacrificou o seu futuro político quando confrontou Rui Rio (o que lhe custou lugar nas listas de deputados em 2022), que aplanou o caminho para o novo ciclo no PSD e que sacrificou a sua vida para que Luís Montenegro pudesse chegar lá, não subira ao lugar dos que ficam no retrato. Estava ao lado dos militantes, com um sorriso largo e a aplaudir.

Poderia ter escolhido escrever sobre temas mais urgentes do que o caráter de alguém. Mas será que a urgência é mais importante do que o detalhe de a ninguém ter ocorrido que aquele gesto deveria ter sido notado? Em que momento perdemos a curiosidade e a atenção para os pormenores? Em que momento não é relevante, e distintivo, ver alguém com tanta influência na vitória eleitoral, optar por “desaparecer” para que os aplausos fossem apenas para Luís Montenegro?

Não conheço pessoalmente Hugo Soares. Trocámos mensagens uma ou outra vez, mais nada. Talvez venha mesmo a ser ministro dos Assuntos Parlamentares, juram-me que sim. No entanto, não o conhecendo, é como se o conhecesse. Talvez também, sem grande risco de me enganar, seja esse o grande trunfo de Luís Montenegro. A lealdade do seu mais próximo. A lealdade do homem que se sacrificou por uma ideia e com isso selou um compromisso político e pessoal para a vida. Essas coisas são mais importantes do que se possa pensar.

Nunca votei no PSD, defendo um modelo de sociedade diferente, uma matriz económica distinta e valores mais progressistas, mas acredito que são as pessoas, a qualidade das pessoas que determina as boas políticas e o respeito pelas instituições e pela responsabilidade do que se faz. Não posso dizer que não tenha ficado contente com este sinal sem qualquer “importância”.