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Luís Simões da Silva: “Competitividade da construção metálica está a transformar o setor da construção”

A fileira da construção está a transformar-se e a construção metálica, que está a crescer com foco na sustentabilidade e na linha da frente de tecnologias como a IA, é um dos protagonistas dessa mudança. Em entrevista ao JE, o presidente da Associação Portuguesa de Construção Metálica e Mista, destaca a competitividade internacional deste sector.
24 Novembro 2025, 07h00

Da construção metálica às fachadas dos edifícios, passando pela inteligência artificial, economia, energia e grandes obras: estes foram temas em destaque no XV Congresso de Construção Metálica Mista que decorreu em paralelo com I Congresso de Engenharia de Fachadas – uma organização da CMM – Associação Portuguesa de Construção Metálica e Mista, de que o Jornal Económico é media partner. Evento teve lugar no Pavilhão Rosa Mota, no Porto, no final da semana passada.

A construção metálica em Portugal vale 6,9 mil milhões de euros e espera-se que o seu peso venha a crescer com grande foco na sustentabilidade. Cresce o dobro da construção convencional, é responsável por 3,3% das exportações e responde por 41 mil empregos diretos.

Tivemos aqui dois dias de intensa programação sobre os mais variados temas: uns mais técnicos, outros mais generalistas mas todos em torno daquela que será a definição do sector nos próximos anos. Qual é o balanço que fazem do evento?

Estivemos a recolher os dados e podemos avançar que estiveram 968 pessoas neste evento, sendo que no último dia e já no final dos trabalhos, ainda estavam pessoas a entrar. Foi possível também obter o feedback das empresas que marcaram presença aqui no Porto e tivemos oportunidade de recolher muitos elogios e também muitas sugestões para aquilo que devemos aprimorar em próximos eventos. Dou-lhe o exemplo do jantar que promovemos na noite de quinta-feira e que foi um espaço de networking muito intenso, com muitas trocas de ideias e conversas. Houve uma grande capacidade de interação num espaço magnífico como é o Palácio da Bolsa.

A Associação Portuguesa de Construção Metálica e Afins, cujo principal objetivo é a promoção e divulgação técnica na área da construção com aço, promove eventos com objetivos específicos. Quer explicar-nos um pouco?

Este evento, por exemplo, foi multiobjetivo e eu creio que isso acaba por nos diferenciar. Temos eventos que são muito focados na parte científica, temos feiras que são muito focadas na parte comercial e eu acho que aqui conseguimos de alguma forma reunir o melhor dos dois mundos e criarem interações com equilíbrio. E isso com que as empresas e o meio académico consigam perceber que só em conjunto é que resolvemos os problemas reais, e que nem o meio profissional os consegue resolver sem os académicos, nem e os académicos não conseguem encontrar soluções sem interagirem com o meio profissional. Portanto, creio que este evento tem essa característica e a forma como tem evoluído nas últimas cinco edições mostra claramente que é um modelo conseguido e que é uma aposta grande e conseguida.

Há novos paradigmas que se colocam à construção metálica, como é o caso da Inteligência Artificial, cuja temática foi explorada nesta edição. Uma das mensagens que foi transmitida nesta conferência é que as empresas devem estar preparadas para as grandes mudanças que aí vêm e que vão ser decisivas no sector.

Sabe que quando se fala de construção, há um chavão que é muito utilizado e que simplesmente não verdade: é de que a construção é o sector em que há menos inovação.

Neste dois dias exemplos testemunhámos vários exemplos de inovação e que inclusivamente diferenciam as empresas lá fora neste sector.

A construção metálica, e este evento pode explanar isso, tem promovido inovação ao mais alto nível em todos os setores. Se Portugal conseguisse pôr estatísticas cá fora e em cima da mesa, se calhar nós víamos, com um levantamento dos projetos de promoção no Portugal 2030 íamos encontrar um sector da construção que está lá presente em força e que nós estamos aqui e isso tem-se visto. É uma trajetória muito interessante perceber que as empresas têm-se conseguido internacionalizar, mostrar que são boas, que conseguem executar os projetos que os outros concebem.

O que temos assistido nos últimos dez anos é que as empresas passaram a desenvolver produtos próprios e a acrescentar valor àquilo que é o seu negócio; essa é uma trajetória muito interessante e a construção metálica, começando pela parte da conceção e do projeto, tem sido o motor da inovação. Por exemplo, quando falamos no projeto de estruturas e nos eurocódigos, nomeadamente o três que o de dimensionamento de estruturas metálicas, está a ser um dos mais inovadores. Fomos os primeiros a promover esse dimensionamento através de análise numérica avançada por elementos unidos e fomos os primeiros a desenvolver uma parte do eurocódigo para fazer o dimensionamento com recurso de inteligência artificial.

Isto trás potencial de competitividade à construção metálica que está a transformar o setor da construção aliado obviamente ao problema novo em mão de obra e da industrialização. É que isto já não é uma opção, é uma necessidade, não há alternativa, não há pessoas para trabalhar em obra e, portanto, temos que robotizar e produzir em série, o que não é fácil porque, de facto, a diversidade dos produtos é muito grande. Essa é que é a grande complexidade.

Por fim, falar desta novidade que tivemos este ano com o primeiro Congresso subordinado às fachadas em que é possível percecionar que há aqui caminhos muito interessantes e que mais do que revestimentos, as fachadas são identidade e personalidade dos próprios edifícios. 

Foi de facto o primeiro congresso. As empresas desafiaram a CMM para promover uma entidade focada a promover as fachadas. O problema das fachadas é que é muito multidisciplinar, acho que isso ficou bem patente, ou seja, é mais complexo que a construção metálica e é preciso dominar uma série de áreas de conhecimento muito mais alargadas, por isso é que não é fácil. Se na construção metálica é possível separar o projeto de concepção e de execução, na parte das fachadas é quase impossível fazer essa separação. Como disse na abertura no Congresso, se nós queremos reduzir prazos de execução, reduzir custos e ganhar qualidade, a fachada é preponderante. É, talvez, o fator mais importante, porque a sua eficiência é essencial. Temos que trabalhar muito para mobilizar o sector para ganhar competitividade.


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