“A Telefónica pode ser o comprador da Meo, a principal marca da Altice Portugal, porque Portugal é o seu mercado natural, porque o gigante espanhol tem capacidade para isso e, além do mais, dispõe de tecnologia que permite desenvolver a operação no mercado português na fase que se segue, do 5G”, afirmou ao Jornal Económico (JE) Luís Todo-Bom, o criador da Portugal Telecom (PT) e seu primeiro presidente.
Desde que o jornal “Expresso” avançou com a informação de que Altice ter mandatou o banco de investimento Lazard para sondar as possibilidades de venda da sua operação da Meo no mercado português – um mandato que beneficia do facto antecedente do mesmo banco, juntamente com a JP Morgan, já ter assessorado a alienação das 3 mil torres de telecomunicações da Altice Portugal, em março de 2018 –, alguns especialistas em telecomunicações e antigos gestores da ex-Portugal Telecom reconheceram que a eventual operação de alienação que poderá vir a ser delineada pela Altice Portugal encaixa perfeitamente na Telefónica.
Numa fase em que a Altice Europa – controlada a 100% por Patrick Drahi -, está pressionada por causa da dimensão da sua dívida, que ultrapassa os 30 mil milhões de euros, conhecendo-se também as exigências tecnológicas do upgrade que as redes 5G implicam, isso significa que as perspetivas de aumento da dívida total da Altice Europa só seriam travadas pela alienação de operações, o que torna ainda mais relevante o atual mandato do banco de investimento Lazard.
Luís Todo-Bom considera que “o papel da Telefónica continua a ser importante para Portugal, fazendo todo o sentido numa perspetiva de integração da operação global ibérica”. A Telefónica está presente em 13 países, com uma média de 113.182 funcionários, segundo a sua informação corporativa. O volume de negócios (receitas) líquido da Telefónica ascende a 43.076 milhões de euros e reporta 345 milhões de acessos totais em dezembro de 2020.
Sob a estratégia do seu presidente executivo, José Maria Álvarez-Pallete, apoiado pelo administrador delegado Ángel Vilá e pelo staff executivo, onde pontua a CEO de Espanha, Emílio Gayo Rodríguez, a par do CEO para o Brasil, Christian Gebara, e dos responsáveis para os mercados do Reino Unido e da Alemanha, destaca-se a área da tecnologia e informação, liderada por Enrique Blanco.
A “mesa de compras” da Telefónica, em Madrid, é uma das mais poderosas da Europa (não só no sector das telecomunicações), dispondo de um orçamento de que poucas empresas dispõe, sendo conhecida por “captar a melhor tecnologia ao preço mais baixo do mercado”, comentaram fontes do sector ao JE.
Politicamente, uma aquisição da Telefónica em Portugal teria o cuidado de ser o mais “cordial possível” para não ferir suscetibilidades, o que perspetivaria um clima laboral sem crispações e um bom relacionamento com as estruturas sindicais, admitem os especialistas contactados pelo JE.
Por agora, a Altice Portugal terá como objetivo aferir a viabilidade da eventual alienação, de forma reduzir a sua dívida na Altice Europe, salvaguardando a situação de unidades economicamente mais relevantes, como é o caso da francesa SFR, que continua a ser a principal empresa do grupo de Drahi.
Sabendo-se igualmente que a Altice adquiriu a PT à brasileira Oi por cerca de 5,6 mil milhões de euros em 2015 e que depois disso, assessorada pelos bancos Lazard e JP Morgan, vendeu as antenas de telecomunicações e parte da rede por 2,2 mil milhões de euros, a perspetiva de poder alienar a Meo por cerca de oito vezes o EBITDA – admitindo-se que um comprador com um perfil especial pagaria um prémio de entrada que elevasse o negócio a um patamar de 6,7 mil milhões de euros –, a concretização de uma operação destas já teria justificado a entrada da Altice em Portugal, saldando-se por um ganho efetivo na operação que tem como sócio português o empresário Armando Pereira.
Refira-se que em 2020, o EBITDA da Altice Portugal conseguiu crescer 0,2%, ascendendo a 833,6 milhões de euros. Face ao múltiplo referido, este EBITDA determinaria uma transação da ordem dos 6.668,8 milhões de euros.
A Telefónica é o grupo incumbente em Espanha, o que facilitaria, segundo vários especialistas portugueses, a gestão da Meo em Portugal, porque o grupo de Álvarez-Pallete está habituado a gerir as questões de mercado relacionadas com os problemas dos operadores incumbentes. Além disso, seria reatada a relação histórica da engenharia e gestão portuguesa com o operador brasileiro Vivo.
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