Após o adiamento da viagem no mês passado, por motivos de saúde, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva embarcou finalmente para a China, naquela que é a sua terceira viagem internacional desde que Lula tomou posse, a 1 de janeiro, depois do Argentina e Uruguai (em conjunto) e Estados Unidos.
Na agenda oficial, adianta a imprensa brasileira, estão previstos encontros com empresários e autoridades locais, além de uma ida à sede do banco dos Brics em Xangai, onde a ex-presidente Dilma Rousseff assumirá formalmente o cargo de presidente da instituição – tal como estava previsto há várias semanas. O ponto alto da viagem é, evidentemente, uma reunião com o presidente chinês, Xi Jinping.
De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, citado pela Exame Brasil, a expectativa é que pelo menos 20 acordos bilaterais entre os dois países sejam assinados na viagem. A comitiva de Lula da Silva inclui alguns dos principais ministros e os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco. Recorde-se que a China é a maior parceira comercial do Brasil desde 2009, quando superou os Estados Unidos, com volume de mais de 150 mil milhões de dólares de trocas comerciais.
Lula da Silva começa a agenda por Xangai, onde visita o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), o chamado banco dos Brics, criado em 2014 como instituição financeira de fomento ao desenvolvimento dos países que formam o grupo (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul). Na quinta-feira será a cerimónia de posse de Dilma Rousseff.
Nessa tarde, Lula da Silva – que vela cerca de 300 pessoas na comitiva – terá encontro com empresários em Xangai, antes de regressar a Pequim. Será na sexta-feira, 14 de abril, que estão concentrados os encontros mais importantes: de manhã com o presidente da Assembleia Popular Nacional, Zhao Leji, com lideranças sindicais, com o primeiro-ministro Li Qiang e finalmente com o presidente Xi Jinping – um primeiro momento aberto ao público e um segundo fechado.
Para além de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, estão na viagem os ministros das Finanças, Meio Ambiente, Agricultura e Pecuária, Desenvolvimento Agrário, Ciência, Tecnologia e Inovação, Relações Exteriores, Minas e Energia e Desenvolvimento e Assistência Social. Mais cinco governadores estão presentes.
O ano de 2023 marca os 50 anos de relação Brasil-China. Em 2022, o Brasil vendeu à China 89,7 mil milhões de produtos brasileiros, o equivalente a 27% das exportações nacionais –soja (36% do total), minério de ferro (20%) e óleos brutos de petróleo (18%), de acordo com dados oficiais citados pela Exame Brasil. O Brasil comprou 60,7 mil milhões em produtos chineses, concentrados na indústria de transformação.
Como presidente do Brasil em mandatos anteriores, Lula da Silva realizou duas outras visitas de Estado à China, em 2004 e 2009 – numa altura em que Hu Jintao, antecessor de Xi Jinping, era o líder máximo do regime.
A importância da visita extravasa a própria visita. É de algum modo a evidenciação de que o chamado Sul Global também tem pretensões a assumir uma postura de bloco – que não tem necessariamente que alinhar na crescente guerrilha entre o bloco da China e o bloco dos Estados Unidos. Esse ‘grito do Ipiranga’ está bem patente na forma como diversos países (nomeadamente alguns dos Brics) se manifestaram em relação à guerra na Ucrânia – tentando não hostilizar de forma declarada a Rússia.
O facto de Lula da Silva estar na China depois de ter ido aos Estados Unidos faz notar, segundo os analistas, duas evidências: que o Brasil quer ser de alguma forma um dos epicentros do Sul Global; e que esse grupo não está interessado em ‘prestar vassalagem’ a nenhum dos blocos em particular.
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