Entramos nos últimos dois meses do ano, naquele que, historicamente, é o melhor período para os investidores, de novembro a abril. Desde 2004 que não se registavam nove dias consecutivos de subidas no índice S&P500, revelando o otimismo dos investidores.
De facto, os últimos anos ficaram marcados por uma pandemia secular, picos de inflação e guerras não vistas há décadas, e por uma alteração no poder geopolítico mundial que trouxeram consigo um nível de nervosismo e ansiedade que se reflete em movimentos abruptos nos mercados financeiros.
O mais recente otimismo tem por base a estabilização da inflação e das taxas de juro, após a última reunião da Reserva Federal americana (Fed). A taxa de inflação tem registado um abrandamento substancial, seja pelo abrandamento da subida dos preços, seja por uma razão mais teórica, o efeito base, consolidando a ideia de que a perda de poder de compra a que assistimos durante 2022 e 2023 dificilmente será recuperada.
A Fed dá como certo que a economia americana está em forte abrandamento e que os efeitos das subidas dos juros ainda não estão refletidos na atividade económica. O desemprego começou a subir, mas a recessão está por ora afastada, muito por conta dos estímulos orçamentais suportados pelo plano Biden, no valor de dois triliões de dólares.
A consequência destas declarações foi a descida dos juros em 0,5% nas obrigações de longo prazo, colocando um fim no ciclo de subida dos juros nos EUA. Muito embora não se perspetive uma redução nas taxas diretoras nos próximos seis a nove meses, até na zona euro já temos consequências. Pela primeira vez em 15 anos, as taxas Euribor a 12 meses estão mais baixas do que as de seis meses, o que significa que os investidores estão a descontar que o BCE inicie a redução dos juros a partir de julho ou, no máximo, em setembro de 2024.
Esta perspetiva de redução é essencial para as famílias e empresas planearem o seu ciclo de necessidades financeiras para 2024, e estarem cientes de que qualquer alívio nos juros apenas será sentido em 2025. Até lá, todos os agentes económicos, incluindo governos europeus, irão defrontar-se com uma economia à beira da recessão e elevados custos de financiamento, colocando as finanças de 2024 sob forte pressão.
Também aqui temos o Plano de Resiliência Europeu a ajudar, mas como todos percebemos será necessário mais do que dinheiro para transformar a economia europeia numa capaz de competir com a economia americana, chinesa ou do Médio Oriente. Afinal, não é a deitar dinheiro para cima dos problemas que eles se resolvem. A Europa já devia saber isso.