No dia 18 de fevereiro de 2020, numa conferência de imprensa em Mulhouse, no leste da França, o Presidente Emmanuel Macron, escolheu o combate ao Islão Político como tema central da sua intervenção. Aproveitou a oportunidade para anunciar como iria lidar com o assunto, identificando quatro frentes de intervenção: combater a influência estrangeira nas escolas e nos locais de culto; promover o culto muçulmano de acordo com princípios seculares e segundo a lei francesa; combater as manifestações de separatismo e comunitarismo islâmico; reassumir o controlo de regiões onde não se faz sentir a autoridade do estado, e onde a polícia não consegue atuar.
Macron pretende limitar a influência de governos estrangeiros em França através de imãs, do financiamento de mesquitas e de programas dirigidos à juventude. Segundo ele, os imãs estrangeiros estão frequentemente ligados ao Salafismo ou à Irmandade Muçulmana e instigam a sua audiência contra a República. No futuro, os imãs serão treinados em França, e terão de respeitar os valores e os princípios da República, não se podendo comportar como elementos sediciosos. Irá terminar o programa de “Ensino da Língua e Cultura de Origem” (ELCO) que funcionou durante décadas. Umas das vítimas poderá ser o ensino da língua portuguesa. Macron pretende substituir o ELCO por acordos bilaterais, de modo a controlar o seu conteúdo.
Em matéria de interferência estrangeira, Macron apontou o dedo à Turquia, que acusou de alimentar o separatismo cultural, religioso e identitário nas comunidades muçulmanas francesas. Macron pretende que as mesquitas sejam financiadas de forma transparente. Segundo ele, a Turquia terá sido o único país que se recusou a assinar um acordo bilateral, nos novos termos impostos pela França. Ancara financia uma imensa rede de mesquitas na Europa, nomeadamente em França, tendo despendido em 2019 um valor próximo dos $2 mil milhões.
Macron fez questão de salientar que o alvo do seu ataque não é o Islão, mas sim o separatismo e o comunitarismo, e o Islão Político, opondo-se à tese defendida, entre outros, por Tariq Ramadan, de que não existe consciência islâmica sem consciência política, e que não existe consciência social sem consciência política, a qual incentiva os muçulmanos a unir o compromisso religioso com o ativismo político. Sendo uma tomada de posição recente, não é ainda possível avaliar a reação das diferentes comunidades muçulmanas francesas.
Embora se trate de medidas importantes e corajosas, elas são parcelares. Não conhecemos ainda a sua eficácia, nem se conseguirão contrariar a recetividade ao Islão Político manifestada por largos segmentos da população muçulmana. A integração das comunidades muçulmanas na sociedade francesa tem sido tratada de forma leviana pelas elites políticas. É um tema que se reveste de elevada complexidade, e tem profundas raízes económicas e sociais, cujo leque de respostas vai muito para além das propostas de Macron.
Não podemos deixar de nos interrogarmos sobre a sua genuinidade. Trata-se de estratégia, ou de uma tática para se aproximar dos eleitores conservadores e esvaziar a narrativa de Marine Le Pen? as eleições municipais estão à porta. Seja o que for, parecem-nos ações positivas. Melhor seria tratar-se de estratégia.