Na segunda-feira, foi quase como que se conseguíssemos ouvir os suspiros de alívio um pouco por todo o mundo. Ainda só atravessámos a primeira ronda das eleições francesas, mas os resultados foram um indicador melhor do que o que as sondagens antecipavam e, por isso, parece que a Europa ultrapassou mesmo este risco.
As sondagens apontavam para uma vitória de Emmanuel Macron na primeira ronda, mas a memória recente do Brexit no Reino Unido e da eleição de Donald Trump nos EUA funcionou como lembrete do quão binários e imprevisíveis este tipo de eventos políticos podem ser.
Por isso, os mercados financeiros fecharam a sessão da sexta-feira anterior às eleições francesas, claramente, tensos em relação às presidenciais. O mundo está a aguentar bem um Trump emaranhado nas várias redes e camadas de poder dos EUA, que o impedem de tomar medidas à sua imagem, e também um Brexit desengonçado, que está funcionar como dissuasor de mais saídas da União Europeia. Mas uma Marine Le Pen no seio de Europa, custa a imaginar…
Agora que os riscos políticos da Europa se dissiparam, para onde devemos direcionar a nossa atenção como investidores? Para a reforma fiscal nos EUA.
Sobre isso, Trump parece encarreirado para entregar pouco e a más horas. A administração norte-americana anunciou esta semana aqueles que são os princípios da reforma, mas a falta de detalhes em relação a questões determinantes, como a disciplina fiscal ou a reforma de deduções fiscais, levam a crer que as mudanças vão demorar a ser negociadas e implementadas.
Será isso um problema para as bolsas? Até certo ponto sim. Se este cenário se materializar ao longo dos próximos meses é natural que o sentimento piore e que as expetativas sejam revistas em baixa.
Afinal de contas, o corte nos impostos tem sido um dos principais motivos para o ânimo bolsista. Mas isso também levaria a Reserva Federal norte-americana a mudar de postura.
Janet Yellen tem sinalizado que a economia está saudável, a melhorar de forma consistente, e que, por isso, existe espaço para continuar a subir as taxas de juro ao longo do ano.
No entanto, se há algo que caracteriza os bancos centrais modernos é a facilidade com que mudam de tom consoante as necessidades. Yellen iria, muito provavelmente, abrandar o ritmo de subida de taxas de juro, caso o sentimento e a confiança dos agentes económicos piorasse. Tem espaço para o fazer, visto que a inflação continua em níveis aceitáveis e isso concederia suporte ao mercado accionista.
Resumindo, penso que podemos estar descansados quanto aos índices norte-americanos, pelo menos até existirem desenvolvimentos em relação a outros temas importantes, como a política monetária do Banco Central Europeu.