Da geopolítica do final do século XX pouco ou nada resta!
Desmembraram-se nações, reestruturaram-se equilíbrios, criaram-se pactos e alianças até ao momento impensáveis. A realpolitik não corresponde a esta nova realidade, sobretudo no que se refere à política internacional.
A diplomacia navega, actualmente, muito mais nas águas turvas da economia, relegando para segundo plano questões como a cooperação Norte/Sul, o diálogo entre todas as nações soberanas, numa palavra a manutenção da paz global. A hierarquização das prioridades no espectro das relações externas passou do social ao económico, sendo que, nesta esfera, a guerra, como negócio de biliões, ocupa uma parte muito significativa.
Com efeito, a guerra é, neste momento, o grande negócio transnacional, a atingir níveis inimagináveis, absurdos, obscenos, com a conivência de grandes nações, que nele apoiam grande parte das suas economias.
A título de mero exemplo, só a guerra no Afeganistão, que envolveu indirectamente 42 nações, representou um custo de 2 biliões de dólares/ano.
A desagregação do Iraque, da Líbia e o conflito na Síria revelaram-se enormes desastres diplomáticos, criando novas e ainda incompreensíveis forças geoestratégicas com conflitos incontroláveis.
No entanto, qualquer uma destas falhas das diversas diplomacias externas revelou-se um êxito económico, com um aumento das despesas em armamento e, simultaneamente, com o aumento de outros negócios de carácter paralelo, baseados na reconstrução e no abastecimento de bens e serviços. No outro extremo, na área negra e ilegal da situação, está o tráfico de seres humanos, associado a todas as misérias humanas, desde o tráfico para exploração sexual, laboral e de órgãos, ao uso de meninos soldado e adopções ilegais. Esta é a parte do icebergue que fica imerso mas que nem por isso deixa de ser uma das mais importantes e lucrativas actividades ilícitas, fruto do desespero dos que tentam fugir a conflitos que não quiseram, que não entendem mas de que são vítimas.
Actualmente, e segundo dados do ACNUR, estima-se que existam 60 milhões de deslocados em todo o Mundo! É um número mais do que assustador – é aberrante, vergonhoso e desumano!
Mas é lucrativo! Muito lucrativo!
E enquanto a política se fizer de números e não de pessoas, o negócio da guerra não deixará de crescer e fazer disparar as diversas bolsas de valores um pouco por todo o Mundo.
A autora escreve segundo a antiga ortografia.